RSI foi um acrónimo que me veio parar aos olhos enquanto navegava. Em português, a expressão foi primeiramente traduzida para Lesão por Esforço Repetitivo (LER), e ainda hoje se usa, embora muitas pessoas comecem a defender o uso da nomeclatura "Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT)" No Brasil, por exemplo, esta expressão veio substituir a primeira. Existe um site que aborda a questão com rigor sobre as implicações médicas e patológicas.
Mais importante do que o seu nome, e a palavra que forma reduzido a acrónimo, é o conceito. Poderemos retirar daqui um corolário de que fomos feitos para evitar a repetição? Profissionalmente, por exemplo, a maior parte das pessoas tende a odiar as tarefas repetitivas.
Somos insaciáveis na busca de coisas novas. Inventos, gadgets, piadas, gastronomias, sensações e sentimentos, fartamo-nos de tudo facilmente, embora a ritmos diferentes, e logo levantamos a cabeça do que nos absorvia, perscrutando o horizonte em busca de mais.
Obviamente, não resisito a traçar o paralelismo com as relações humanas. Desenvolveremos nós lesões por esforço repetitivo? Será esta uma patologia que nos proíbe de desfrutar uma relação monogâmica a 100%? Criaremos tendinites na hipófise, atrofias na língua, chegando a experimentar dor enquanto repetimos o mesmo sentimento, dia após dia? Serão as relações como um circuito eléctrico mal desenhado, com elevadas perdas de eficácia e sobreaquecimento, à medida que são usadas? Esta parece ser uma corrente muito em voga, hoje em dia. "Nada é para sempre.", "Foi bom enquanto durou.", "O que importa é que se divirtam.", são lugares-comuns cada vez mais comuns!
Poderíamos, então, conceber grupos de ajuda, isenções no IRS e lugares especiais de estacionamento para aqueles que sentissem o mesmo há muito tempo! Os meus pais, casados há 39 anos e apaixonados há mais, veriam esses anos incorporados no cálculo da sua reforma!
Contudo, eu não vejo essas lesões, neles e noutros. Ainda há várias excepções que não confirmam a regra, mas a desmentem. O cenário, idilicamente elaborado, acaba por ruir estrondosamente, na minha opinião, à luz de um pormenor essencial: Se as LER se aplicam às relações humanas, se nos fartamos tão velozmente, porque razão tantos procuram exactamente essa plenitude? E porque ninguém fica indiferente quando encontra alguém que de facto a encontrou?
Depois de destruir a minha própria teoria, chego à minha própria explicação. As LER acontecem devido à repetição prolongada e excessiva da mesma tarefa. E é aqui que os conceitos se baralham para muitos. O que a expressão significa, é que o egoísmo em querer experimentar tudo de uma vez, em não dar tempo ou espaço para mais nada, é que acaba por minar o futuro do relacionamento. Absorvidos em nós próprios, entregamo-nos a 110% a tudo o que seja o nosso objectivo imediato, esquecendo o óbvio.
Uma relação não é tudo... para perdurar, tem de ter um lugar cimeiro, mas não único nas nossas vidas. Tem de ser conciliada com tudo o resto que nos dá prazer (quase tudo, vá), com todas as nossas obrigações e deveres, com todos os nossos hobies e loucuras. Ou seja, dá trabalho!
... mas diz-se que vale a pena! Diz que sim...