quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Heróis – admirados ou invejados?

A questão assaltou-se-me ontem à noite, numa noite de casino com alguns amigos. Com uma nota de 20 USD no Blackjack, jogo que bastante aprecio, consegui um retorno de 570 USD. Foi uma luta titânica, de algumas horas, e que deu um lucro completamente inesperado. Ora, quem me conhece, sabe que eu defendo que alguém que vai a um casino, deve levar dinheiro para GASTAR, sem qualquer ilusões de lucros e ganhos, tal e qual como se fosse ao cinema, ao teatro ou a outro lado qualquer. Não se trata de um investimento, tal como um carro também não o é… trata-se de um GASTO. Frequento casinos já há vários anos, sempre com esta filosofia. Escolho de antemão o dinheiro que vou gastar em jogo nessa noite e NÃO TEIMO com o jogo. Apenas passo algumas horas a fazer algo que gosto, com a possibilidade de não ter de pagar por isso e até de ganhar.

Mas a obssessão de muitas pessoas por ganhar é enorme. E só isso explica a frase “És um herói!” que me foi dirigida repetidamente ontem. Não houve qualquer acto de heroísmo da minha parte. Apenas um bom conhecimento do jogo aliado ao factor SORTE. Então, porquê a excitação e ansiedade que aquela sala viveu durante mais de uma hora, em que se conseguia sentir a tensão em momentos mais arriscados, os suspiros de alívio quando conseguia recuperar e o silêncio cortante quando estava em apuros? Porquê as palmadas nas costas e as gargalhadas quando superava uma jogada com muito dinheiro investido?

A explicação é simples. Na verdade, é a inveja que determina a nossa eleição de alguém à categoria de herói. Admiração e inveja caminham assim de mão dada, uma não existindo sem a outra.

A escolha de heróis diz muito sobre as pessoas. Permite espreitar as suas motivações, as suas ambições e as suas frustrações. Conhecendo o herói de alguém, conhecemos os seus objectivos e as atitudes tornam-se quase transparentes. Dado que essa escolha é, na maior parte das vezes, automática e irreflectida, ela torna-se ainda mais sintomática dos medos e fraquezas de alguém. Tendemos a invejar (ou admirar, se preferirem) aqueles que superaram o que nós não superámos, que conseguem o que nós não conseguimos, que têm o que nós não temos. E, devido a isso, elevamo-los a uma categoria superior, inferiozando-nos a nós próprios. Ou seja, através do herói de alguém, sabemos quais os seus desejos, as suas prioridades, aquilo que considera importante, aquilo que secretamente almeja.

Será importante, como um exercício de auto-estima e auto-suficiência emocional, avaliarmos aqueles que invejamos/admiramos, e retirá-los do pedestal feito por nós. Especialmente sendo uns tolos que a única coisa que conseguiram, foi ter sorte!

 

Eu já reavaliei o meu herói de infância e tirei as minhas próprias ilacções…

15 comentários:

Gi disse...

Não tenho heróis; mas há muita gente que considero bem melhores do que eu.
Constatações.

Oásis disse...

Tens noção que a ausência de comentários se poderá dever ao facto de toda a gente ter ficado a matutar em qual era o teu heroi? Satsifaz-nos essa curiosidade que depois já podemos fazer comentários de "advogados do Diabo" (penso que este último não seja herói de alguém, vá lá, da maioria não é! acho eu...)

Oásis disse...

OMG! Aprovação prévia???? Está bem, está bem...
Quando me perguntaram ontem qual era o meu herói, pensei logo no John Lennon... Mas herói não é Deus, só admiro o homem mas até prefiro não o ver à lupa porque ainda posso mudar de ideias. Ou seja, o que importa é o que ele me transmite, os ideais.
Tenho uma "miúda" que é um exemplo para mim e adoro-a, invejar nunca. Já pensei se seria "inferior" a ela mas não, sou apenas diferente. Em termos de lucidez e carinho essa pessoa está num plano superior, é certo, mas isso não me torna inferior. Contradição? Não. É amizade.

Blueminerva disse...

Encontrar novos posts neste espaço é um Jackpot... as saudades que eu tinha de ler-te.

beijocas

Anjo De Cor disse...

E o teu heroi qual é? ... ;)

Hélder disse...

Gi,

Não tens heróis? És uma heroína! ;)

Hélder disse...

Marisa,

O Diabo é um herói para milhares e milhares de pessoas. Aliás, tal como Deus, há dezenas de interpretações sobre o seu papel, a sua aparência e as suas intenções.

Não discuto a qualidade do herói, até porque normalmente escolhemos com base em poucas características. A admiração/inveja não é um processo racional, mas sim instintivo.

Concordo que a amizade é um caso à parte... às vezes! :P

Hélder disse...

blueminerva,

Eu também tinha saudades de ser lido. Esperemos que com ano novo, vida nova!

Beijocas e obrigado!

Hélder disse...

Anjo de Cor,

Curiosa! :P

Talvez responda... deixa-me pensar em algo...

Anónimo disse...

Sendo eu o "Rei do Blackjack", estou à espera de aparecer na lista de nomeados para teu herói!
Quando a lista for publicada, eu e o Xavi vamos colocar as nossas apostas na Betfair... :)

Um excelente 2009 para ti, amigo.

Vela

V. disse...

Nunca entrei num casino: não gosto de jogar e o pouco que tenho prefiro utilizar d eoutra forma (também é certo que nunca tive "sorte", já que nunca me "ofereci" a ela).

Não consigo concordar quando dizes quase taxativamente que admiração e inveja caminham de mão dada e que a admiração e a inveja são o mesmo motor.

A admiração é um motor que impulsiona para a frente e a inveja para trás. A admiração tem um efeito positivo e a inveja negativo. As consequências de sentir uma ou outra são totalmente diferentes.

Pessoalmente não tenho heróis. Tenho admiração por alguns desconhecidos (mas não ao ponto de os "heroizar") e inveja, bem, não nego que não tenha alguns episódios de uma ponta de inveja. Mas não tendo a invejar e muito menos pessoas que admiro.

Claro está que esta é a minha opinião :)

Beijinhos

Hélder disse...

Vela,

Estiveste quase, sem dúvida... mas lembrei-me da vez em que fraquejaste e perdeste a Holanda! ;)

Um excelente 2009, friend!

Hélder disse...

Thunderlady,

A partir do momento em que não gostas de dinheiro, não deves entrar lá. Não se vai lá ganhar dinheiro, por muito que muita gente pense que sim.

Não vamos considerar taxativamente. Mas qual a distinção entre as duas? Não será apenas uma questão de grau?

Beijinhos!

Carla disse...

gostei desta tua análise do jogo, principalmente para uma pessoa como eu que pura e simplesmente não gosta de jogar
beijos

Hélder disse...

Carla,

Há jogos que toda a gente gosta! ;)

Estes, de facto, não são para todos, mas podemos ver diferentes tipos de emoções. Não esquecer que isto mexe com a carteira das pessoas, ou seja, põe as pessoas nervosas e ansiosas, prontas a cuspir alegria, desapontamento, fúria ou tristeza. É interessante!

Beijos.