sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Previsões

Vivemos tempo conturbados de invertezas económicas. O ex-gigante EUA tornou-se, na última década, uma bolha especulativa financiada pela China. Contudo, a própria China pode ver-se em maus lençóis se a crise se alastrar pelos EUA. Os títulos de dívida pública que a China comprou aos EUA para os permitir a continuar a importar produtos chineses (estes tipos são espertos, há que admiti-lo) poderão não valer um chavo amanhã. E todos sabemos a influência que a China tem na economia mundial e as consequências que a sua queda acarreta.

No meio de todo este caos, muitos se perguntam como é possível termos chegado a este ponto.

"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar  
bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até  
que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à  
falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"
Karl Marx, in Das Kapital, 1867

Não defendo teorias de direita ou de esquerda, porque não me identifico com nenhuma delas. Acredito na concorrência como o melhor meio de aumentar a eficiência produtiva com o mínimo de recursos. Nem a Natureza, que é a Natureza, encontrou forma melhor. Agora, será que eficiência produtiva é um objectivo que deveríamos perseguir com todas as estruturas da sociedade (tal qual o fazemos agora)? A ideia de crescimento como objectivo, que já se deveria ter abandonado desde a introdução do conceito de desenvolvimento, nunca foi abandonada. Continuamos a viver numa cultura de que maior é melhor. Carro grande, casa grande, mamas grandes, grandes lucros, enormes vendas, crescer, crescer… Tal qual tumores.

Está claro que os modelos económicos estão a falhar. É certo que a teoria económica vai avançar com uma explicação para os livros. Excesso de free-riders, elevada corrupção, mecanismos reguladores deficitários, crise de confiança no sistema, and so on, mercados emergentes e saturação, etc…

Não partilho das ideias utópicas de Karl Marx. Contudo, nenhuma universidade do mundo deixa de ensinar a sua teoria e pensamento económico. Tornou-se uma referência no estudo do capital e filosófico e não pode ser descartado. É claro que uma citação, desprovida do seu contexto, pode ganhar inúmeras interpretações.

 

De qualquer modo, acreditem em quem leu, era mesmo a isto que ele se referia.

4 comentários:

Cati disse...

Realmente a citação que escolheste faz lembrar as profecias de Nostradamus... the end of the world is here! E Karl Marx avisou com bastante antecedência.

Beijoca grande*

Oásis disse...

Trocar crescimento por desenvolvimento implica a modificação de muitas cabecinhas e perceber que ao ganharmos todos um pouco, todos ganhamos muito mais, e não estou a falar de dinheiro. Então, pegando no post dos professores, isso também é uma questão de educação, de sensibilização e os professores têm um papel importante (quem não tem na memória um professor que o levou a gostar de uma cadeira em particular ou que o levou a adoptar uma postura diferente em relação a algo ou a descobrir um talento que não sabia que tinha).

Hélder disse...

O mal das profecias é que tendem a ser generalistas. Como um saco grande, cabe tudo lá dentro. ;)

Beijocas, futura mamã!

Hélder disse...

Marisa,

Eu sabia que captarias a ligação dos dois. Estive tentado a mencionar isso no post dos professores, mas preferi deixar para que os subtis o captassem.

Vimos a discutir conceitos como desenvolvimento e qualidade há anos, mas continuamos a medir o sucesso por crescimento. Continuamos uma caravela que deriva sem rumo, com o capitão, o navegador, o oficial médico e os marinheiros a discutir onde aplicar a madeira que falta: novos mastros, novos luxos aumento do comprimento.

E ninguém no leme...