quinta-feira, 17 de abril de 2008

Repetitive Strain Injury

RSI foi um acrónimo que me veio parar aos olhos enquanto navegava. Em português, a expressão foi primeiramente traduzida para Lesão por Esforço Repetitivo (LER), e ainda hoje se usa, embora muitas pessoas comecem a defender o uso da nomeclatura "Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT)" No Brasil, por exemplo, esta expressão veio substituir a primeira. Existe um site que aborda a questão com rigor sobre as implicações médicas e patológicas.

Mais importante do que o seu nome, e a palavra que forma reduzido a acrónimo, é o conceito. Poderemos retirar daqui um corolário de que fomos feitos para evitar a repetição? Profissionalmente, por exemplo, a maior parte das pessoas tende a odiar as tarefas repetitivas.

Somos insaciáveis na busca de coisas novas. Inventos, gadgets, piadas, gastronomias, sensações e sentimentos, fartamo-nos de tudo facilmente, embora a ritmos diferentes, e logo levantamos a cabeça do que nos absorvia, perscrutando o horizonte em busca de mais.

Obviamente, não resisito a traçar o paralelismo com as relações humanas. Desenvolveremos nós lesões por esforço repetitivo? Será esta uma patologia que nos proíbe de desfrutar uma relação monogâmica a 100%? Criaremos tendinites na hipófise, atrofias na língua, chegando a experimentar dor enquanto repetimos o mesmo sentimento, dia após dia? Serão as relações como um circuito eléctrico mal desenhado, com elevadas perdas de eficácia e sobreaquecimento, à medida que são usadas? Esta parece ser uma corrente muito em voga, hoje em dia. "Nada é para sempre.", "Foi bom enquanto durou.", "O que importa é que se divirtam.", são lugares-comuns cada vez mais comuns!

Poderíamos, então, conceber grupos de ajuda, isenções no IRS e lugares especiais de estacionamento para aqueles que sentissem o mesmo há muito tempo! Os meus pais, casados há 39 anos e apaixonados há mais, veriam esses anos incorporados no cálculo da sua reforma!

Contudo, eu não vejo essas lesões, neles e noutros. Ainda há várias excepções que não confirmam a regra, mas a desmentem. O cenário, idilicamente elaborado, acaba por ruir estrondosamente, na minha opinião, à luz de um pormenor essencial: Se as LER se aplicam às relações humanas, se nos fartamos tão velozmente, porque razão tantos procuram exactamente essa plenitude? E porque ninguém fica indiferente quando encontra alguém que de facto a encontrou?

Depois de destruir a minha própria teoria, chego à minha própria explicação. As LER acontecem devido à repetição prolongada e excessiva da mesma tarefa. E é aqui que os conceitos se baralham para muitos. O que a expressão significa, é que o egoísmo em querer experimentar tudo de uma vez, em não dar tempo ou espaço para mais nada, é que acaba por minar o futuro do relacionamento. Absorvidos em nós próprios, entregamo-nos a 110% a tudo o que seja o nosso objectivo imediato, esquecendo o óbvio.

Uma relação não é tudo... para perdurar, tem de ter um lugar cimeiro, mas não único nas nossas vidas. Tem de ser conciliada com tudo o resto que nos dá prazer (quase tudo, vá), com todas as nossas obrigações e deveres, com todos os nossos hobies e loucuras. Ou seja, dá trabalho!


... mas diz-se que vale a pena! Diz que sim...

21 comentários:

Anónimo disse...

Este post destoa do bloger que se apresenta no resto do blog! (Desculpa a sinceridade, mas é um defeito de fabrico!)

Essa visão parece-me extremamente redutora daquilo que é ou pode ser uma relação. Depende muito do papel que esperas ou desejas que essa relação tenha na tua vida! Sempre defendi a teoria de que o amor não basta... que podes amar uma pessoa a tua vida toda sem que ela sequer o perceba... sempre defendi que a outra pessoa precisa de saber que é amada porque, se assim não for, vai perder o interesse! E isso dá trabalho! A maior parte das pessoas não o sabe fazer sem se tornar lamechas e acabando por tornar o relacionamento monótono e sem atractivos!

Uma relação não pode nunca ser o único objectivo da tua vida, mas, se queres que ela seja importante, tem de ser o objectivo primordial...

Numa relação séria e verdadeira, na minha opinião, o que dizes é desprovido de sentido! Porque numa relação (que possa ser denominada dessa forma), a outra pessoa entende perfeitamente quais são os teus deveres, as tuas obrigações, os teus hobies e as tuas loucuras! E respeita-as, mesmo que não as compreenda...

Não podes nunca é esquecer-te que por mais compreensão e respeito que possa existir, pode também existir incompatibilidades. E aquilo que é perfeitamente normal para ti, pode ser totalmente inaceitável para a outra pessoa. E se assim for, por mais trabalho, dedicação e empenho que tenhamos, simplesmente não resulta!

(E fico por aqui, porque qualquer dia ainda escrevo mais do que tu... korror! ;))

Gi disse...

HT tu acreditas que eu que estou numa relação tão longa, apaixonante, apaixonada, não te sei explicar quase nada? Só sei sentir ... a única coisa que sei é que é preciso muito trabalho, muitas peças para encaixar, muito arranja de um lado, desmancha do outro ... nem sei explicar!

Anónimo disse...

Uma relação tem que ter uma dose de dedicação e de absorção que são inerentes àquela paixão humana que é o amor (vide "paixões humanas" pelos filósofos greco-latinos).
Alimenta o lado mais irracional do Homem, que é a necessidade de amar e de ser amado e que não se explica, mede ou condiciona.
Menos que isso, é morno. E morno, nem o café ;)

SBFR disse...

bolas.. hj estou demasiado racional para este teu post... e acima de tudo sou das piores pessoas para falar de relações... lol a sério posta outra coisa para eu poider dar um contributo minimamente (aparentemente) inteligente, boa?

beijinhos

Sally disse...

ai vale vale.. :)

Elvira Carvalho disse...

Pois amigo nem sei que lhe diga. A minha relação é de Amor, Respeito, cumplicidade, tolerância, carinho. Dura há 44 anos, sendo 42 de casamento, 2 de namoro. E sabe que mais. Só desejo que dure até ao meu último suspiro, e tenho quase a cereza de que o meu marido deseja o mesmo.
Um abraço e uma chamada de atenção para o próximo dia 24 de Abril.
Uma boa semana.

Cati disse...

Sem tempo para mais, deixo-te um beijo!

Laetitia disse...

È verdade, uma relação para resultar tem de ser muito, mas mesmo muito trabalhada!
Beijos

Anjo De Cor disse...

Tudo na vida dá trabalho, mas com um feriado à porta, não falemos de trabalheira e rotina mas sim VIVA a Liberdade!!! e vamos lá passear que se faz tarde **
Beijinhos e bom fds prolongado e... deixa as filosofias na parteleira não te canses ... pk se esta vida fosse assim tão linear não tinha piada nenhuma ...
bjs**

PS: em relação ao comentário que colocas-te no meu blod digo-te que as mulheres são capazes até de construir uma bomba só para não terem rugas, heheheheh ;)tou a brincar!

S* disse...

Confesso que ao ler o início do post, não imaginei o que se seguiria. É verdade que enquanto espécie animal, o Homem não está programado para a monogamia. Porém, o Homem foi capaz de algo surpreendente: a sociedade, a cultura! Tudo o que nos diferencia das outras espécies humanas. Somos capazes de pensar, relfectir a respeito das emoções.
Acho que o teu último parágrafo resume tudo: para que uma relação perdure, temos de ter consciência que temos muito mais além dessa relação - temos amigos, família, trabalho e temos a nós mesmos, cada um individualmente.
E se queres saber, eu acredito que as relações podem durar a vida inteira. A minha avó enviuvou ao 50º ano de casamento e tive o privilégio de assistir durante os meus primeiros 18 anos de vida ao amor que unia os meus avós - amavam-se, respeitavam-se, eram mais que marido e mulher, eram amigos e cúmplices que todos os dias puxavam pelo melhor de si e do outro.
Como disseste, vale a pena, sim!

**

Elvira Carvalho disse...

Passei para desejar bom Domingo e deixar um abraço

African Queen disse...

Minha querida, sabes do que gostei mais no teu texto?... assim, a primeira coisa que me veio à cabeça depois de o ler? Foi o facto de teres mostrado que é possível, porque tens exemplos de relações positivas e felizes. É que eu acredito profundamente que é possível e que é preciso trabalhar para lá chegar mas os meus modelos são muito maus, estou rodeada de relações disfuncionais, infernais e tristes. Por isso mesmo fico sempre feliz com histórias como a dos teus pais, renova-me a esperança de um dia poder construir algo assim, mesmo sendo desajeitada e sem bons exemplos para me guiar :).
Beijinhos!

African Queen disse...

LOL Desculpa o "minha querida"... é no que dá andar a visitar os blogues todos de uma vez e com pouco tempo e cansaço acumulado :).
Se mudares para "Meu querido" tudo o resto é mesmo assim :)

V. disse...

Por algum motivo as LMERT estão a ser alvo de investigação aprofundada e é hje em dia um dos "alvos" da segurança e higiene. Para que a entidade patronal se capacite que os esforços e movimentos repetitivos são causa de lesões graves, sim.
Mas normalmente estas lesões não são consequência de algum acto masoquista por parte do operador, como tentas fazer a analogia cok as maleitas da alma.

Essas são bem mais complexas e dificeis de analisar. E a mesma solução não serve a duas situações, mesmo que um dos elementos seja comum.

Beijinhos!!

Unknown disse...

Marquei o seu blog nos meus favoritos. Há já algum tempo qu eo espreito! Infelizmente hoje não foz a "ponte". Bem que desenhei uma no papel....mas tenho de trabalhar. Gostei de o ler!Relações? Hummm...a "gente" escreve, fala, fala, fala, diz que não, não e não mas bummm, um dia acorda e está metida numa relação complicada! È a VIDA! (rindo)
Parabéns pelo seu blog.

Sabina disse...

Para mim, um dos melhores textos que escreveste neste blog :-)

Parabéns!

Elvira Carvalho disse...

De férias?
Bom Domingo
Um abraço

ruth ministro disse...

Também acho que vale a pena :)

Tens um mimo à tua espera lá na nuvem...

Beijos

S. disse...

Espero que esteja tudo bem contigo, homem! Já começo a estranhar tantas férias nesta altura do ano...

Beijos

Elvira Carvalho disse...

Só passei para deixar um abraço e desejar bom fim de semana.

S* disse...

Bem, eu deixei o meu cantinho a acumular pó enquanto estive sem computador, mas tu estás a bater recordes. Espero que esteja tudo bem.
Ao ver o meu comentário ali em cima, reparei que escrevi " Tudo o que nos diferencia das outras espécies humanas." quando queria dizer "tudo o que nos diferencia das outras espécies animais". Enfim...

**