quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Segundos Passos

De regresso a mim mesmo e ao mundo, reavalio tudo e todos à luz do novo (velho) “eu”, inclusive a mim próprio. A senda continua…

Como os nossos antepassados nómadas, paro frequentemente em busca de pontos de referência. Não existem mapas nem GPS para a rota escolhida, convém certificar-me de que continuo no caminho escolhido. “Tudo bem, estás óptimo”.

Nas pequenas deambulações da vida, vou encontrando outros viajantes. Trocamos impressões, damos indicações mútuas. Por vezes, apenas isso. Outras, decidimos pernoitar juntos antes de cada um seguir a sua viagem. Outras ainda, descobrimos que o destino é comum e a companhia agradável e passamos a caminhar juntos.

Apercebo-me também dos “outros”, os não-viajantes, a multidão dos locais por onde passo. Aqueles que aprenderam a gostar lugar onde estão, os que se resignaram, os obstinados que se recusam a dar mais um passo, os que protegem o seu casebre com unhas e dentes, os que habituam palácios sumptuosos que outros construíram e mantêm, os que não sonham que existem outros lugares para lá do seu, os que não estão em condições de viajar.

Um viajante não censura, cedo aprende que a diversidade habita o mundo e isso faz dele maravilhoso. Há algo fantástico, é que os viajantes se reconhecem uns aos outros entre a multidão. Não por seguirem na mesma direcção, apenas por que partilham o mesmo olhar de irrequietude, de busca interior, de serena confiança de que preferem percorrer mais uns quilómetros de desconhecido do que permanecer onde estão.

Há não-viajantes que também nos reconhecem. Pedem que contemos histórias das nossas viagens. Uns apenas para viajarem eles próprios por uns instantes, outros para se refastelarem na sua superioridade de pequeno conforto adquirido. Outros ficam a sonhar… Alguns, muito poucos, perguntam como viajar. Respondo sempre o mesmo, “não é como, é porquê. Se tens razões para viajar, põe-te a caminho.” Outros ainda, precisam de ajuda para seguir viagem. Acho que devemos sempre parar para ajudar, um dia vamos precisar também, queremos que nos façam o mesmo. Além disso, um pequeno atraso numa caminhada de uma vida não é nada e, quem sabe, até podemos ganhar outro companheiro… talvez até descobrir que se chegou ao destino.

Pelo caminho, ficam também noites solitárias em cavernas frias, dias de caminhadas à secura do sol ou sob o ímpeto da chuva. E também festas, carinhos, diversões, maluqueiras e afins. Lugares que quase nos prendem, outros dos quais fugimos. E ainda erros, estupidez, passos em falso, e atalhos errados.

“Nada que não soubesses quando partiste” comento para mim próprio.

E, nos momentos de solitária reflexão, entoo o lema dos Viajantes: Mais importante que chegar ao destino, é reconhecer que não se está lá. E aproveitar a viagem.

P.S. – Um grande abraço para todos os viajantes, alguns dos quais (re)conheci aqui.

12 comentários:

Azul disse...

Esta blogesfera anda cheia de bons, excelentes escritores que, no fundo, acabam por ficar sub-aproveitados....
E uma pena.
Tenho lido alguns que deveriam ter livros editados e estar a fazer balúrdios, numa qualquer editora, em vez de outros, bem conhecidos e um não vlemu chavelho....
Tu és um dos que poderia estar a viver á sombra da bananeira, tal é a qualidade dos teus posts.

( então, até 10 de Novembro, ao que parece!)

Hélder disse...

Azul,

Com comentários assim, ainda me despeço e depoistens mais uma boca para alimentar! :D

Shadows in Love disse...

Acredito que este texto foi escrito devido as voltas e revoltas que a vida te tem proporcionado... nem sempre sabemos se o caminho traçado é o mais certo ou não mas relamente o melhor é mesmo aproveitar ao máximo a viagem... pois só assim poderemos olhar para trás e dizer que vida boa...

Hélder disse...

Olá shadows,

Como me disse o meu avô, já há muitos anos, poucos meses antes de falecer: "Só nos arrependemos dos riscos que não corremos".

Ele tinha razão. A questão é se conseguimos seguir o conselho, ou se nos deixamos desistir pelo caminho.

Beijinho

S. disse...

1ª incursão pelo seu blogue... retribuindo a visita que me fez lá na caixinha.
Parabéns, escreve muito bem! Voltarei para ler mais e com mais atenção! Agora o tempo não mo permite... infelizmente!

Resto de boa semana! ;)

Marta disse...

O mais importante nunca é a meta, mas a eterna procura!

Um beijinho grande

Excelente post ( aliás, como sempre ) :)

Hélder disse...

Sofia,

Benvinda ao cantinho. Fica o tempo que quiseres, volta quando quiseres. O café sou eu que ofereço.

Hélder disse...

Marta,

Sabia que tu compreenderias. Obrigado.

Beijinho.

Margaret disse...

uau que lindo... isso é verdade, os viajantes reconhecem-se pelo olhar! quero eu olhar muito irrequietamente e confiantemente, para que me reconheçam no caminhio e me mostrem sítios idos...

Hélder disse...

Alguem+,

Tenho a certeza que reconhecem e que te pedem que contes as tuas viagens.

Eme disse...

Tou parva com este texto, juro..
Adorei. Mil vezes. A D O R E I !!!

"Um viajante não censura, cedo aprende que a diversidade habita o mundo e isso faz dele maravilhoso. Há algo fantástico, é que os viajantes se reconhecem uns aos outros entre a multidão. Não por seguirem na mesma direcção, apenas por que partilham o mesmo olhar de irrequietude, de busca interior, de serena confiança de que preferem percorrer mais uns quilómetros de desconhecido do que permanecer onde estão."

A M E I !

Beijo

Hélder disse...

M.

Fico contente que tenhas gostado.

Beijo.