terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sós ou Mal Acompanhados?

Vejo as suas mágoas, tantas vezes mascaradas com sorrisos frágeis e desvios de olhar. Reconheço as suas inseguranças entre as aparatosas apresentações de autoconfiança. Sinto as suas dúvidas nas mais portentosas afirmações de certezas inabaláveis. Contemplo a sua solidão no incessante galopar das suas palavras, que usam como arma para calar qualquer silêncio que lhes ameace gritar aos ouvidos…

E vejo o medo! O medo de não ser apreciado, de não ser aceite, o medo da solidão. Encontro pessoas perdidas dentro de si próprias, ofegantes por conforto, carinho e Amor. Sinto-lhes o desespero de ter QUALQUER coisa, tudo menos o desconforto frio, o vazio gelado, de ficarem sozinhos consigo próprios.

Conheço bem os lugares tenebrosos e escuros por onde a alma torturada vagueia. Reconheço-lhes no olhar quando um qualquer fantasma se apodera e lhes arrasta o pensamento para os sombrios vales da Solidão, da tristeza e da Auto-Comiseração.

Sempre com medo de se revelarem realmente, de se expor totalmente. Falam e escrevem por trás de risos e banalidades pseudo-sérias, com fervor e ardor nas convicções que acreditam dever ter, no comportamento que imaginam que os outros acham o seu… e, no meio, disfarçada e subtilmente, a prece por aprovação, por conselho, por ajuda, por um guia. Alguém que lhes pegue na mão e afaste os medos com a força do seu Amor, na qual se possam confortar e ser transportadas para aquele cantinho agradável que só quem já amou e foi amado conhece realmente. Revejo-me a mim próprio enquanto o observo nos outros. Relembro o quão fácil é cair neste falso silogismo, ceder à doce tentação de entregar-nos a nossa felicidade a alguém que vá sempre estimá-la e cuidá-la, tudo na vã promessa de fazermos o mesmo. Sei o quão agradável é colocar a nossa alegria na mão de outros e simplesmente ir cobrando parcelas, como se de uma renda se tratasse.

Sei o quão falso tudo isso é. A diferença entre entrega total e arrendamento especulativo.

Conheço e renego a solidão que leva a termos no nosso mundo quem realmente não queremos, que apenas aceitamos porque estão lá. A facilidade com que nos prostituímos e trocámos o que de mais valioso há em nós, o nosso “eu”, por uns minutos falso de ilusão de companheirismo, parceria ou amor. Ou, então, a arrogância com que nos convencemos da nossa imunidade aos outros, da nossa indiferença aos seus ataques mesquinhos, da nossa impermeabilidade à sua natureza parasita e predatória.

Com que facilidade esquecemos o conselho dos nossos pais: “Mais vale só que mal acompanhado”. (Talvez aí esteja o erro, não é , é simplesmente sozinho.) E com que leviandade esquecemos as palavras dos nosso avós: “Diz-me com quem andas, e eu te direi quem és.”

Nenhum homem é uma ilha, mas cada um de nós é um indivíduo. Não vale a pena afogar-nos em solidão quando estamos rodeados de multidão. É desnecessário tanto esforço para nos protegermos, quando, no final, somos nós próprios que nos minamos. É inútil procurar nos outros o consolo de nós próprios quando não deixamos ninguém entrar…

20 comentários:

Marta disse...

Muito verdadeiro este texto!

Rebejo-me em muitas das tuas palavras! Já fui muito assim, um medo da solidão!
Hoje já não, ainda tenho medo dela, mas enfrento-a! Já não cedo a esse medo com facilidade, apenas ao medo da entrega!

Beijinho doce

Hélder disse...

marta,

Se o teu medo é o da entrega, o último parágrafo é para ti.
"Quantas coisas perdemos com medo de perder?!"

Beijinho.

S disse...

Li o teu texto, muito bem escrito como sempre, e só me veio o seguinte pensamento à cabeça: "mas quantas pessoas há assim... quantas e quantas?". E olha eu preferia que nao houvesse. A solidão só é boa quando a sabemos apreciar.

Melissa Yedda disse...

Gosto de estar sozinha, mas não gosto de ser solitária...Mas acredito que poucas pessoas tem a força suficientes em si para uma solidão sem solidão. Estar sozinhos, mas estar tão bem consigo mesmo, que nunca busque o outro para aplacar um pouco a solidão...Belo texto, faz pensar muito! Beijinho.

Hélder disse...

sylvia,

Infelizmente, saber apreciar a solidão implica estarmos bem connosco próprios. E, quando não estamos, cometemos frequentemente o erro de fugir ao problema na companhia dos outros.

Refodida disse...

Ui, que arrepio...

Shadows in Love disse...

Um post bastante actual... realmente hoje em dia passasse mesmo assim o medo constate de ficar sozinhos... mas será certo procurar o errado... ou ficar com a primrira pessoa que aparece sem primeiro ver se realmente é aquilo que se quer? Será assim tão fácil encontrar o que não se sabe que procurar? Esse é o grande problema, infelizmente nunca ficamos bem com aquilo que temos... por melhor que seja...

Marta disse...

Todas! Perco todas!

Hélder disse...

melissa,

Benvinda ao canto.

Mais do que força, é preciso coragem para mergulharmos em nós próprios e descobrirmos em nós coisas que não gostamos. Perdoamos muito mais facilmente as falhas dos outros, até porque pensamos que não as temos.
Custa ser honesto connosco, mas compensa. Deixas de ter solidão, passas a ser uma boa companhia para ti própro.

Beijinho.

Hélder disse...

Shadows,

Ainda estou à procura de respostas para as tuas perguntas.

Devemos saber bem o que queremos e arriscar-nos a nunca encontrar ninguém assim? Ou devemos deixar-nos ir até aparecer alguém que encaixe?
Penso que a resposta poderá passar por uma posição intermédia, onde a nossa independência face aos outros permita dar por dar, estar porque se quer e não porque apoiamos parte da nossa auto-confiança nisso. Mas esta é uma resposta parcial, não responde a tudo...

Se encontrares respostas, avisa!

Beijinho.

Hélder disse...

Marta,

Então, primeiro temos de tratar desse medo. A primeira coisa é pensar em tudo o que podes ganhar. A segunda coisa é saber que só perdes uma ilusão de solidão, que na verdade, estás sozinha é quando não te entregas, porque ficas presa e isolada dentro de ti própria.

Beijinho grande (e sem dedos também)

Vitalis disse...

O medo... a insegurança.. a dúvida... e ás vezes sem qualquer razão para existir.

Sei bem do que falas.

adorei o texto.

*

Hélder disse...

Anaïs,

Ainda bem que gostaste.

Beijo.

Azul disse...

Tocam-nos a todos, os sentimentos de que falas, infelizmente mais do que uma vez na vida.~
E vamos erguendo muros , para nos protegermos do mundo, quando ás vezes basta protegermo-nos de nós próprios.
Mas isso seria demasiado simples.

Adorei o texto.

( escreve bem, este moçoilo!)

Anónimo disse...

.”Nenhum homem é uma ilha, mas cada um de nós é um indivíduo. Não vale a pena afogar-nos em solidão quando estamos rodeados de multidão. É desnecessário tanto esforço para nos protegermos, quando, no final, somos nós próprios que nos minamos. É inútil procurar nos outros o consolo de nós próprios quando não deixamos ninguém entrar…"
Esta parte para mim é a melhor!
Verdadeira como tudo!
Desculpa, mas tu tens o dom da palavra!
fiquei boquiaberta!
Parabens!
beijoca!

Hélder disse...

Azul,

"Mas isso seria demasiado SIMPLES." Caramba, esta deixou-me intrigado!

Moçoilo?!?! A marta chama-me gaijinho, tu chamas-me moçoilo... uma de vocês ainda vai ter que me explicar esse denegrir colectivo da minha imagem. Olhem que eu até sou altito!

Beijos.

Hélder disse...

Catworld,

Muito obrigado pelas tuas palavras, eu também gosto muito de te ler, embora tenhas andado mais inactiva.

Beijinho.

Azul disse...

Altinho, até podes ser!

Agora, ainda nem cota és(cota: gaijo-a- com mais de 30 )!!!

Portanto,até lá, és o nosso gaijinho,moçoilo,whatever, de eleição!

Shadows in Love disse...

Eu também procuro a resposta... não sei se a vou encontrar mas se encontrar eu aviso... acima de tudo deveremos é estar bem connosco isso é o principal...

S disse...

Vim aqui dizer-te que estás linkado ;) Pode ser? :)