quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Adeus, Roque

Dizíamos entre nós que eras um tipo de sorte. A Morte parecia incapaz de te tocar. Tiveste a PIDE à perna várias vezes. Fosse o 25 de Abril a 26, e estarias preso. Sobreviveste a meia dúzia de acidentes incríveis. Ileso, chegaste a tirar todos os passageiros inconscientes do carro e correste atrás do culpado. Rasgos inexplicáveis de sorte faziam-te escapar à derradeira armadilha, por muito traiçoeira que fosse. Árvores que caiam onde tinhas estado um segundo antes. PIDEs que eram chamados de volta mesmo quando estavam para te apanhar. Por um engano numa carruagem, e algum sono, enterraste um amigo, que ocupou o lugar que era sempre teu, quando não apareceste.

Sei agora o que não vi antes. Tantas armadilhas só poderiam querer dizer que Ela estava determinada atrás de ti. Para nós, que te chamávamos de imortal, deixou a ironia da persistência. Numa última armadilha, apanhou-te. Porque te queria tanto, não saberei dizer.

Foste dinâmico e activo na tua vida, embora discordássemos frequentemente. Deixaste amigos do peito pelo país e estrangeiro, e especialmente na tua cidade, tua de tantas formas e feitios. A cidade do conhecimento deve-te muito. És responsável pelo bem estar de dezenas de crianças e pelos sorrisos de centenas, entre as quais me incluo. Um anfitrião simpatiquíssimo, que sempre tive o prazer de apresentar e dar a conhecer a todos os meus amigos.

Que os estudantes se enlutem, os mercados se fechem e que a cidade gema um fado tão seu... e tão teu...

Adeus, Roque!