quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Predadores

Falsos e hipócritas, predadores de almas perdidas, pairam nas sombras, preparados para atacar ao mínimo sinal de fraqueza.

Vejo-os por todo o lado. Autênticos camaleões, conseguem transformar-se instantaneamente nas pessoas que procuramos. Guiados pelo faro do seu egoísmo, conseguem cheirar uma ferida na alma a kms de distância. O seu único intento é o de saciar a fome de veneração, companhia, sexo, poder ou dinheiro (ou todas as anteriores), enterrando os dentes directamente no coração das suas vítimas e fugindo com um grande pedaço.

Astutos caçadores, cujas prioridades são apenas eles próprios, recorrem a todos os truques, a todas as manhas, para atingirem os seus fins. Jogam com os sentimentos de culpa, de honestidade e de sinceridade das suas presas. Subtilmente, carregam os dedos nas feridas, agudizando a dor, enquanto fingem tentar curá-la. Lentamente, ardilosamente, vão isolando a vítima, separando-a através de pequenas mentiras, meias-verdades e insinuações de outras esferas de influência. Transformam-se e tentam transformar a realidade imediata da sua vítima, num jogo de sombras e ilusões. Depois do ardil montado, recostam-se e saciam-se num festim que dura o máximo de tempo que conseguirem, ou até farejarem uma presa melhor.

Alimentam-se da beleza que eles próprios aniquilam e abandonam as carcaças vivas, muitas vezes culpando a carcaça. Como culpar uma flor por secar depois de lhe arrancarmos a raiz…

Sou muitas vezes caçador destas bestas. Ilumino-lhes os olhos selvagens, a cobiça e os ardis. Trago luz ao caminho das vítimas. E depois fico com elas nos braços, moribundas, necessitando de cura. Cada vez mais me interrogo… Quem sou eu para quebrar a ilusão de alguém? Não seria melhor responder “Sim, é o melhor que te podia ter acontecido. Nota-se a dedicação e o amor!”, com um sorriso nos lábios e esperar por um pedido claro de auxílio, se ele vier? Como responder ao pedido “Dá-me a tua opinião sincera”?

“Com a verdade.”, ouço-me a mim próprio. “Mas não sem que antes ta solicitem…”

16 comentários:

Marta disse...

Mas sabes porque é que o predador culpa a presa? Porque na verdade é a presa que está cheia de culpa e isso fa-la tentar remediar a situação de todas as formas, fa-la aceitar que ele a manipule, que a use! No dia em que ela se perdoar e aceitar que a culpa não existe mas sim a responsabilidade e cada um tem a sua parte dela, o predador não a consegue perseguir e controlar mais! E nesse dia que ela se libertar, então podes dizer que foi a melhor coisa que lhe podia ter acontecido!
Sabes que é muito mais facil culpar os outros do que nos confrontarmos connosco, mas na realidade são os maiores culpados aqueles que mais culpam os outros pq quanto mais culpado o outro for, menos eu serei, vale?

beijo

Hélder disse...

Marta,

Estou de acordo a 100%, tenho vindo a dizer o mesmo nos meus textos.
A grande questão é: qual o papel que um expectador, um amigo, deve tomar? Ajuda, ou espera que lhe peçam ajuda? E quando te pedem a tua opinião sincera, mas tu sabes que apenas querem que concordes contigo, porque se vier de ti convencem-se mais facilmente de uma mentira?

Agora, não está de parte a culpa da presa em ser vítima. É dela e apenas dela, não pode haver trasferências de culpa. Mas irrita-me esta raça de predadores que se sustentam dos outros.

Um beijo.

Anónimo disse...

Contudo...
Não haveria predadores se não houvesse presas...

(Ovo ou galinha?!)

Azul disse...

Olá , tou aqui, voltei de lá!

E que contas tens tu para ajustar comigo?hã?!?

Ainda não li o teu post, estou em tempo agora.

Amanhã, prometo!
bJUFAS!

S disse...

A Marta já disse tudo e não podia estar mais de acordo mas às vezes as coisas não são assim tão lineares.
Quanto a ajudar ou esperar que te peçam ajuda? Para mim o pedido de ajuda de alguém que se deixa "apresar" está lá. Não é preciso que a presa nossa amiga nos peça nada... a maior parte das vezes nem sabem que precisam de ajuda. Estar nesta condição não faz da presa pior pessoa, apenas alguém que por circunstâncias diversas caiu numa situação mais indesejável. Como amigos não podemos deixar de estar presentes.... Quer a presa goste ou não.
Quanto a predadores... que se lixem todos e que sejam muito infelizes, pois quem brinca com os sentimentos alheios, mais não merece.

Ana disse...

Giro, é quando os papéis se invertem, e a tão frágil e inocente presa descobre o seu poder interior, aí o predador deixa de ter controlo na situação e é atraído para o covil da presa...
Infelizmente é uma espécie que nunca estará em vias de extinção, desde os tempos pré-históricos que o Homem é predador,está-lhe no sangue...
Foi evoluindo,tornou-se mais refinado, contudo é algo superficial...sob várias camadas oculta o medo,a inveja,mesquinhez e a falta de amor-próprio...

Gostei do post,Parabéns!!! Vou voltar a passar por aqui para me introspectar na tua escrita :)
Beijinhos

Hélder disse...

sylvia,

Também pensava assim, mas começo a duvidar disso. Já várias vezes "presas" ficaram aborrecidas por lhes abrir os olhos. Geralmente, as pessoas não gostam que lhes quebrem as ilusões.

Hélder disse...

Ana,

Volta sempre que quiseres, para te introspectares ou não.

Beijinhos.

Silvia Madureira disse...

Mais uma vez tocas um ponto delicado e que me atormenta...................
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Atormenta o não conseguir detectar facilmente se é ou não caçador.......
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O caçador por vezes usa artimanhas complexas de mais e conseguem ser convincentes.....................
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Sentindo um enorme pavor de caçadores fico tão alerta que acabo por fechar as portas a todos porque não consigo averiguar se tem licença de caça ou não.............................
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Acabo por sofrer ainda mais porque não consigo confiar e tenho medo de ser magoada...................
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não tenho um alerta (como dizes ser) que identifica o caçador.......................
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Tento conciliar o medo, com a vontade, com o coração e com a razão.......................
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Mais difícil que Matemática 100*
beijo

Silvia Madureira disse...

Gostei muito deste texto. Mais simples que o outro e novamente foi à ferida.

um abraço

Maga Patalógika disse...

Acho que todos nós temos um bocadinho de presa e de predador... tudo depende da fase da nossa vida por que estamos a passar. Se é uma fase em que estamos sem forças, vulneráveis e fragilizados, somos presas. Se estamos numa fase em que estamos fortes, seguros daquilo que somos e queremos, a atravessar uma fase mais egoísta, por que todos já passámos uma vez ou outra, penso eu, podemos tornar-nos no predador. E na grande maioria das vezes nem sequer nos apercebemos de que estamos a ocupar essa posição. E eu tenho a certeza de que já fui presa... e tenho medo, muito medo de já ter sido predador. E por mais que negue, não sei se já o fui. Porque se há predadores que o são conscientemente, há mesmo muitos que o são e não o sabem, nem nunca se apercebem.

Escreves mesmo muito bem, e com muita alma, gosto de te ler, não posso deixar de o repetir. ;)

Bjinho!

Marta disse...

Htsousa

Eu acho que só devemos ajudar quando nos pedem ajuda, porque de outra forma estamos a interferir na vida da pessoa e a impedir muitas vezes que ela cresça e aprenda à custa dos próprios erros!
Quanto à opinião, porque é que achas que as pessoas me chamam cruel? É que eu meto o dedo na ferida a muita gente!

Hélder disse...

Silvia Madureira,

Lembra-te que arrependemo-nos dos riscos que não corremos. Mais do que estarmos preocupados com predadores, devemos preocupar-nos com não sermos presas e com manter a capacidade de analisarmos as coisas pelo que elas são e não pelo que queremos que sejam.

E também aprender a lidar com isso, porque todos somos enganados, nem que seja por nóe próprios.

Não acho a Matemática difícil, por isso teria de dizer que isto é mais complicado 1.000.000.000 de vezes.

Beijinho.

Hélder disse...

Maga,

Também acho que há muitos que não sabem que o são. Consideram-se até altruístas. Fazem as coisas com a melhor das intenções.

Mas podemos medir as coisas pelos actos. Todos nós passamos momentos mais egoístas, momentos em que queremos que tudo seja para nós, por nós. O que conta é o que fazemos nesses momentos. E quantas vezes eles acontecem.

Obrigado pelo elogio.

Beijinhos.

Silvia Madureira disse...

Agora falando muito a sério...se abrisses um consultório que tratasse problemas sentimentais das mulheres...irias ter muuuuuuuito sucesso! Porque é que nunca falas nos homens? Será que queres esconder a tua espécie? Será que queres esconder as tuas artes de caçada? Falar do outro é sempre mais fácil.

Não leves isto como uma crítica, eu adoro os teus textos...mas tenho desejos de ver descrita a fraqueza dos homens...será que também não são caçados?

beijocas

Hélder disse...

Silvia Madureira,

Tenta ler o texto pensando em predador como mulher e presa como homem. Muitas das nossas fraquezas são as vossas.

Percebi o que querias dizer, andei com uma ideia para um texto desses, mas o voo foi demasiado rápido para o escrever, quando cheguei ao computador já tinha mudado de direcção.

Beijo.