sábado, 1 de dezembro de 2007

Enjeitado da Felicidade

Sentia-se bem! Contente, confiante e seguro, um verdadeiro garanhão!

Assumia finalmente o papel há muito almejado, conseguia o que queria. Estava a realizar os seus sonhos mais profundos e secretos, e um sorriso de satisfação arrogante era agora uma constante no rosto.

Continuava a amar (pensava ele) a sua companheira. Apenas já não lhe despertava tanta pica... Também, andava ocupado com outras coisas! Era normal que se tivessem distanciado um pouco... Nada que ele não conseguisse endireitar, se assim o pretendesse. Até dava jeito manter assim as coisas, deixava-o livre para explorar outros voos.

A presa não tinha sido fácil. Há muito cobiçada, ele havia conseguido manobrar-se até um papel de amigo próximo, com progressos importantes na confiança entre os dois. Mas o derradeiro passo não se vislumbrava possível.
A oportunidade caiu de repente, uma crise pessoal de auto-estima. E ele ali tão perto!! Não podia haver maior sorte. A corte foi subtil e intensa, baseada no relacionamento anterior. Vestiu a sua verdadeira pele, e assumiu o papel de predador. Finalmente!

E agora estava determinado a experenciar isto o mais possível, até se fartar. Era importante manter a imagem que gozava, até para si próprio. Tinha plena confiança que era capaz de dominar a situação, manter as duas! Queria afundar todos os medos na suprema arrogância da manipulação, mostrar a si próprio que era um homem, finalmente anular todas as frustrações de adolescente! Ser o maior! Pobre rapazinho trémulo e destinado à solidão...


Quando tudo se desmoronou, o pobre infeliz apenas foi capaz de experimentar frustração e auto-comiseração. E como foi incapaz de aprender com os erros, apenas pensa que teve azar desta vez... Como se o erro fosse ser apanhado, e não a mentira que é, especialmente, para si próprio...
Digo infeliz apenas porque vive tão enganado de si próprio que não tem a capacidade de experimentar felicidade, apenas contentamento, satisfação e gozo.

Como pastilha elástica, tem algum sabor, mas sem substância.

Pobre infeliz!

27 comentários:

Anónimo disse...

Há tanta gente que prefere viver assim! Sempre tive como lema não criticar as opções de ninguém! Cada pessoa sabe como quer reger a sua vida: se preferem viver uma falsa felicidade em vez de buscar a verdadeira, acho que fazem muito bem... Quem sabe se não são realmente mais felizes do que os outros?

Beijo

S. disse...

Toda a gente que envereda por este caminho do eu e só eu é necessariamente menos. Menos feliz, menos infeliz, menos ser, menos humano - MENOS!
Sousa, belo conteúdo, once more... you're good! ;))
kiss

Fernando disse...

Excelente.

Excelente ideia e muito bem expressa.

Subscrevo a Sofia..."you're good!"

e acrescento..."Damn Good!"

Afrika disse...

Viver de aparências... do desejo de um dia se ser aquilo que sempre se quis!
Beijo

Eme disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
iFrancisca disse...

Coitadas destas pessoas mesmo! Para mim vivem ela metade, mantendo-se na farsa.. bjs e parabens

Cati disse...

Infelizes são aquelas que vão no conto do vigário e não conseguem dar conta a tempo do infeliz que estão a levar para a vida delas...

Infeliz daquela esposa que mantém um infeliz junto a ela só com medo de o deixar e de se sentir mais infeliz!

Tens razão, no entanto, numa coisa: inevitavelmente esse infeliz sentirá o sabor da frustração... e perceberá que se enjeitou, ele mesmo, da felicidade!!!

Um grande beijinho - boa semana!

Anónimo disse...

"Como pastilha elástica, tem algum sabor, mas sem substância." - Gostei principalmente desta frase.

Define perfeitamente as "vidas descartáveis". Tomam os outros como descartáveis e muitas vezes a si próprios também... sem capacidade de aprender, como dizes, servem de pouco as lições...

Beijo.

Anónimo disse...

Nesta história ninguém é feliz... quem engana, quem é enganado, quem se deixa enganar... E "quem tudo quer, tudo perde"...

Marta disse...

Aproximações onde a honestidade para si próprio não está presente, nunca funcionam!

Anónimo disse...

"Continuava a amar (pensava ele) a sua companheira"... Pensava ele...

Repito, pensava ele...

"I said, 'Honey, I don't feel so good,
don't feel justified
Come on put a little love here in my void,'
he said 'It's all in your head,' and I said, 'So's everything'
But he didn't get it
I thought he was a man
But he was just a little boy"
(Fiona Apple)

Repito, I thought he was a man
But he was just a little boy...

Hélder disse...

blackstar,

Não critico as opções conscientes de ninguém quanto à sua própria vida. Mas critico aqueles que magoam outros devido ao seu egoísmo, e que não aprendem com os erros!

Quanto à questão da falsa felicidade... não é felicidade, é contentamento e resignação. Por mais que reprimam, por mais que se iludam e escondam do resto do mundo, fica sempre uma intranquilidade interior, uma tristeza profunda pela artificialidade do que têm.
Os outros? Podem nunca alcançar o que querem, mas são verdadeiros consigo próprios. Só por aí, apesar de tudo o que possam sofrer, são mais felizes. (penso eu de que)

Beijo.

Anónimo disse...

Provavelmente pode ter tido momentos de felicidade...
Enquanto outros nunca a encontraram na vida enquanto corriam em busca da mesma.
E agora me questiono...
Sera que a felicidade plena existe?
Penso que nao. Mas pudemos ser o mais felizes que pudermos.
Apenas nao devemos magoar terceiros em busca do que nos pertence...

Até já...

www.memoriasecretas.blogs.sapo.pt

Hélder disse...

sofia,

Muito bem posto. É isso mesmo.

Beijo.

Hélder disse...

hyoma,

Muito obrigado. Bem vindo ao meu canto, e aos blogs!

Abraço.

Hélder disse...

afrika,

E viver como se já o fosse, usar outros para se convencer disso...

Beijo.

Hélder disse...

m.,

Não confundir a efemeridade com a ilusão. Todos os momentos são efémeros e ninguém pode pensar que os controla. Mas pode escolher o que faz com todos eles, como os vive, para si e para os outros...

Beijos.

Hélder disse...

ifrancisca,

Para elas também vivem pela metade... mas não admitem a ninguém, especialmente a si próprios!

Beijos e obrigado, mas não faço anos ;)

Hélder disse...

cati,

Discordo da primeira parte. Quem é iludido não é um coitado, apenas foi iludido. Todos somos, mais do que uma vez na vida. Não é motivo de vergonha, são coisas que acontecem a todos. Pior seria viver com medos.

Concordo quanto ao medo, acho que todas as pessoas que não saem duma situação devido ao medo são infelizes.

Beijinho! Boa semana para ti!

Hélder disse...

marta (1),

Tomam tudo como descartável, tudo são meios para um fim. Como utensílios, até podem ser muito bem tratados e mantidos em bom estado, enquanto conservarem utilidade. Alguns podem sê-lo a vida inteira... mas não passam de ferramentas!

Beijo.

Hélder disse...

black cat,

Infelizmente, nem todas as histórias acabam bem. E, infelizmente, nem sempre quem tudo quer, tudo perde...

Beijinhos

Hélder disse...

marta (2),

Depende do conceito de funcionam. Mas algumas duram a vida inteira.

Beijinho.

Hélder disse...

alfacinha,

Perspicaz como sempre!

Beijinhos.

Hélder disse...

mensageira,

Não creio que possa ter sentido tal coisa. Apenas alegria, contentamento. Não vejo a felicidade como um patamar que se alcance, é um caminho que se constrói, a nossa maneira de estar na vida. E isto independentemente das frustrações que a vida nos traga.
Alguém que não é autêntico não pode ser feliz, porque dentro de si irá sempre existir a mágoa.

Beijinho.

Azul disse...

Bonito.
No fundo descreves em poucas e bonitas palavras a definição para " homem".Com H pequeno, note-se.

Azul disse...

Bonito.
No fundo descreves em poucas e bonitas palavras a definição para " homem".Com H pequeno, note-se.

Hélder disse...

Azul,

Um enjeitado, não um homem. Um pequeno estropiado condenado.