terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O Amor é para sempre (II)

Claro que sabia que uma relação traz trabalho. Dois indivíduos diferentes não podem estar sempre em harmonia, nem isso traz qualquer interesse. Surgiam os naturais desentendimentos, talvez um pouco dificultados pelo orgulho dos dois, e pela inexperiência em relações sérias.
Para ele, a base da relação era a confiança. Por isso, sempre foi contra o ciúme. O ciúme nasce do sentimento de posse, essas são as suas raízes. Se o amor é entrega, não há possibilidade de ciúme, ciuminhos, ou qualquer outro variante! Sentimento de protecção, sim, de estima e carinho pela pessoa amada. Mas não ciúmes! Isso era contraditório com a própria noção de Amor!

Cego e ingénuo, ignorou todos os sinais da morte da relação, do seu próprio papel nisso. Com o tempo, sentiu como garantido o amor por si, negligenciou o facto de uma relação precisar de investimento contínuo, sob a pena de morrer... E essa morte tomou-o de surpresa, apunhalou-o no coração, revirou todo o seu mundo! De uma só vez, sentiu a rejeição cruel, a tristeza fria, o desespero negro na sua força máxima! Andou estonteado pelo mundo, enquanto se agarrava a tudo o que podia... À medida que saltava de muleta em muleta, de concepção em concepção, de argumento em argumento, por todos se revelarem insuficientes, foi-se afundando cada vez mais num oceano de pessimismo, polvilhado de abismos de dor. Na sua ânsia de explicar a si próprio o fim do que ele cria interminável, esmagou-se a si próprio sob o peso da dura realidade! E perdeu aquilo que julgava ter, a noção da sua identidade.

Forçado a repensar-se, mergulhou em si próprio, e, através de labirintos horrendos, chegou uma vez mais perto de si. Lentamente, reposicionou-se no universo, no seu e no exterior. Re-emergiu diferente, renovado, determinado a não mais olvidar partes de si! Autenticidade passou a ser uma palavra do seu dia a dia, especialmente após as mentiras que tinha vivido e as mentiras que tinha sido. Não mais a vida se lhe afigurou como patamares a ser conquistados, donde se podia pensar em saltar com relativa segurança para outros. Antes como etapas a ser percorridas, uma incógnita de situações a ser vividas autenticamente e à sua maneira. "Fazer do caminho nosso!"

Não mais procurou basear a sua identidade nas opiniões de outros. Estas assumiram apenas a dimensão de espelhos distorcidos, donde se podem tirar ilações cuidadosas. As vicissitudes revelam-se períodos de prova e crescimento, os oportunidades momentos de prazeres e deleites. A realidade é uma besta que não controla, nem nunca vai controlar. Apenas a pode influenciar com a sua força e ser ele próprio perante o que aparecer.

E o Amor?...

(continua)

49 comentários:

Anónimo disse...

"A realidade é uma besta que não controla, nem nunca vai controlar." - E ainda bem, apesar de existirem posições de defesa em que se tenta se for preciso não sentir, não arriscar, para poder minimizar os danos de qualquer realidade dolorosa.
Acho que já todos tentámos controlar os sentimentos, eu já pelo menos, e como com toda a gente, revelou-se o maior erro que já cometi!

E o Amor? O Amor não deixa de o ser só porque acabou. ;)

beijo.

Unknown disse...

Discordo com a tua opinião sobre o ciúme! Acho que sempre que há amor, há ciúme! E depois há a confiança e é ela que faz com que os ciúmes sejam totalmente controlados! Porque sabemos que podemos confiar em quem amamos... Sabemos (ou achamos) que quem nos ama, não nos trai e, por isso, estamos descansados!

Aliás, a primeira definição que aparece no dicionário para ciúme é algo como "zelo amoroso", ou seja, os cuidados que temos para quem amamos!

Quanto ao amor... não faço ideia o que lhe acontece! Suponho que se é realmente amor, nunca desaparece! Pode transformar-se num sentimento de amizade, mas não desaparece!

S. disse...

Ora, ora! É bom ver-te tão produtivo! Ontem não tive tempo para visitas e olha o que perdi... lol

Como deve ser fácil perceber, adoro posts por capítulos. Deixa-nos sempre com um bichinho a remoer cá dentro.

Também acho que o amor é para sempre. Uma vez que se ama alguém, vai-se sempre amá-la(o), mas... acredito, sei!, que é possível amar outro alguém, e uma vez que isso aconteça, também será para sempre. Não é o amor que muda; muitas vezes, a nossa vida é que muda e com ela, as nossas vontades.

Estou deserta pela continuação. Beijinhos

Azul disse...

O ciúme corrói tudo.

Sara disse...

O amor acaba sempre por aparecer. :)

Marta disse...

Bonitos textos (falo pelos 2)

E sei do que falas, cada palavra dor, sei do que falas!
Infelizmente sei? Não! Felizmente! Se não houvessem as lágrimas, também não saberíamos dar valor aos sorrisos!

beijo

Rosa disse...

Diz que o amor não serve para nada... (Não sou eu! É o José Luís Peixoto)

Sally disse...

O amor é um turbilhão de sentimentos!

Silvia Madureira disse...

Aqui está descrita uma aprendizagem. Tudo na vida requer uma aprendizagem. Existem pessoas que aprendem mais rápido determinadas tarefas do que outros mas primeiro tem que aprender. E este ciclo verifica-se desde pequenino.

Este personagem aprendeu muito...aprendeu que para Amar é preciso dar e receber. Amar é uma das aprendizagens mais complexas e mais...não se pode escolher o momento dessa aprendizagem como quando se decide tirar um curso.

É que Amar é de tal forma surpreendente que quando dizemos "vai dar certo" acaba por "dar mal"...

Conclusão (de quem julga nunca ter Amado): quando julgámos Amar alguém devemos dar tudo o que somos e não o que pretendemos ser ou o que os outros pretendem que sejamos. Devemos sobretudo dar aso à nossa tolerância...depois disto se não resultar significa que não há Amor e foi mera ilusão.

Qq comentário via email.
Obrigado.

yensung disse...

Hmm... essa de não ver os sinais é só para quem não quer! LEmbro-me que tive alturas em que os meus até se manifestaram de forma física, com enjôos e sensações de angústia, antes mesmo de perceber racionalmente o que estava a acontecer na relação.

Mas agora estou mesmo curiosa para saber o resto! Sim, "e o Amor"? Também eu perdi de certa forma a minha identidade única na altura em que a fui fundindo com a da outra pessoa. Recuperá-la foi um processo moroso, até porque há coisas que são irrecuperáveis ao fim de uma catrefada de anos, mas não sofrido. Desde o "dia zero" que percebi que a vida me estava a dar uma segunda oportunidade, embora na altura nem percebesse muito bem o porquê dessa sensação.

Desde então, não voltei a ter uma relação que me preenchesse nem de perto o que essa me preencheu. Mas estou deveras curiosa para saber, chegada a altura, o que "a Uma e a Outra" vão fazer: abandonam-se de novo ao processo de fusão ou será possível crescerem lado a lado com o outro num ambiente simbiótico? A ver vamos... :)

Sónia disse...

Qualquer morte nos toma de surpresa, mesmo quando temos a conciência de que é inevitável e aqui refiro-me á morte relacional, não sentimental, porque aí concordo em absoluto com a frase "Nada se perde, tudo se transforma".

Adorei ler-te, a forma clara e completa com que expôes as ideias.

Virei espreitar o que se segue..

Hélder disse...

marta,

Pode-se deixar de amar, mas não de Amar! E refrear os sentimentos é impossível, embora seja possível encarar as coisas de diferentes maneiras. Os sentimentos influenciam o pensamento, mas o pensamento também influi os sentimentos!

Beijo.

Hélder disse...

blackstar,

Vou-te dar a minha definição de dicionário de ciúme, e é deste que eu estou a falar:

1.inveja de alguém que usufrui de uma situação ou de algo que não se possui ou que se desejaria possuir em exclusividade;
2.sentimento de possessividade em relação a algo ou alguém;
3.sentimento gerado pelo desejo de conservar alguém junto de si ou por não conseguir partilhar afectivamente essa pessoa; sentimento gerado pela suspeita da infidelidade de um parceiro;
(Do lat. *zelúmen, de zelu-, «inveja»)

Se o Amor é entrega, é dar sem esperar receber, então o ciúme é incompatível com este sentimento.
O que não tem nada a ver com zelo, querer bem, querer proteger, com os cuidados.

Beijos!

Hélder disse...

sofia,

Estamos na mesma onda! A continuação segue dentro de momentos... ;)

Beijinhos!

Hélder disse...

azul,

Diria que o ciúme revela um sentimento de posse que não é nunca salutar. Não é o ciúme que corrói, porque este é apenas um sintoma de algo.

Hélder disse...

sara,

Uma visão romântica! ;) Acredito que muitas vezes é abafado pela nossa incapacidade de lidar com perdas e rejeições... e só perdemos com isso!

Não podemos controlar o mundo, podemos apenas escolher como estar nele e como lidar com as coisas boas e más que se nos defrontam!

Hélder disse...

marta (2),

Essa é outra aprendizagem, também muito difícil de fazer. É fácil de o pensar, mas muito difícil de apreender!
Amor e ódio, tristeza e alegria são apenas pontos nas mesmas rectas, uns não existem sem os outros!

Beijo

Hélder disse...

rosa,

E tu, o que achas?

Hélder disse...

tita,

Ou vêm associados!

Fernando disse...

Ciumes são criações do Ego...Nada mais do que isso.

Hélder disse...

silvia madureira,

Amar não se aprende, sente-se. O difícil é lidar com o turbilhão de sentimentos que lhe vêm associados. Com os desentendimentos e as desilusões, as rejeições e os amores não correspondidos, as frustrações.
Essa é a aprendizagem, lidarmos com o reverso da medalha do lado bom da vida.

Para nos protegermos, usamos muitos subterfúgios. Alguns que sabemos estar errados, mas nos quais assentamos porque são mais fáceis.

Por isso é importante a autenticidade na vida, porque tudo o que vier, vem por nós, pelo nosso real valor.

Beijo.

Hélder disse...

yensung,

Só não vê quem está cego, sem dúvida. Mas quantas vezes andamos cegos, só vemos o que queremos ver...

Também eu fico curioso com o que vai acontecer, até porque depende única e exclusivamente de si própria! O seguimento do texto vai falar de uma possível solução, entre muitas...

Beijos!

Hélder disse...

crystal,

Aí está uma máxima que tento aplicar em tudo, muito embora a 2ª Lei da Termodinâmica nos diga que não é bem assim...

Mas é muito mais fácil pensá-lo que sabê-lo, senti-lo!

Obrigado pela visita, beijinhos.

Hélder disse...

hyoma,

Dizemos o mesmo de maneira diferente, ou assim creio. São manifestações de um sentimento de posse, que se prende com o ego, na minha opinião.

Mas obviamente temos que definir ciúme, para mim é o conceito explicitado na resposta à blackstar.

Abraço.

Unknown disse...

O sr consulta o dicionário da Porto Editora! lol

Repara que não podes fazer uma definição literal da palavra! Quando falamos num casal o que existe não é inveja! Será talvez um medo... medo de perder o lugar que se ocupa na vida de uma pessoa com a introdução de uma outra!
E não te podes esquecer do paradoxo que tu próprio referes: o amor é entrega, por isso, é normal que exista algo de posse! Se quisermos ir ao extremo dizemos coisas como "o meu namorado" ou "o meu marido"! Empregamos um possessivo para nos referirmos a essas pessoas! E quem é que nunca disse "és meu/minha" a um namorado? (Até eu que sou considerada o bloco de gelo da blogosfera já o disse!) :)

Hélder disse...

blackstar,

A menina insiste em tratar-me por você, hã?! ;)

Claro que podemos falar de inveja. Inveja da companhia e da atenção que poderia disponibilizar a outros. Se o Amor é entrega, dar sem esperar receber, o ciúme deveria ficar completamente de lado, porque a entrega seria total. Não se trata de alguém te ter, trata-se de tu te entregares. mbora tenha a mesma denotação, a conotação é completamente diferente!

Mas os sentimentos nunca se encontram isolados, não experienciamos um de cada vez. O que eu digo apenas é que o ciúme vem de outro lado, vem da posse, não da entrega. E que possuir algo é incompatível com darmo-nos a algo!

E tu estás muito longe de ser um bloco de gelo, quanto mais O bloco de gelo!

Beijo!

Unknown disse...

Meu amigo, sejamos directos, nunca sentiste ciúmes de uma namorada?

Repare que agora tratei-o por tu! ;)

Hélder disse...

Minha cara menina,

Já senti ciuminhos, sim. De algumas namoradas. E também sei reclamar a atenção ou o carinho ou o sexo ou seja o que for que me apeteça. Mas muito cedo na vida, cheguei a esta conclusão, que estas são manifestações do ego, de necessidades nossas, e que o Amor seria uma antítese disto.
E da única vez que Amei, não senti ciúmes nunca! Nem uma única vez!

E a "minha" (lol) ex pode confirmar. Além de que sempre achei que uma relação não deve sobreviver com controlo, mas isso já são outros 500!

Beijo.

Unknown disse...

Ok! Eu faço de conta que acredito! O meu ex também diria que eu nunca sinto ciúmes, que a mim nada me incomoda, mas isso é só porque eu sei disfarçar muito bem! :)

Eme disse...

E o amor? provavelmente esperava na esquina ali ao lado à espera de ser de novo ensinado...

Adorei :)

Beijo

Hélder disse...

blackstar,

Renitente, hem?! Só ver para crer? Acredita, não havia ciúmes. Mas não confundir ciúmes com zelo, falo dos ciúmes que defini acima!

Hélder disse...

m.,

À continuacion...

Beijo

V. disse...

[Permites-me que dê minha visão desta tua frase «Dois indivíduos diferentes não podem estar sempre em harmonia, nem isso traz qualquer interesse»? Eu escrveria deste modo : «Dois indivíduos diferentes não podem estar sempre de acordo, nem isso traz qualquer interesse». Eu sei que são as tuas histórias, mas... eu acho possível estar em harmonia estando em desacordo e que estar sempre de acordo, realmente, é totalmente desinteresante, não deixa evoluir e acaba por fazer definhar.]

Deixas, no fim, as reticências. Eu acredito que amamos se forms genuinos e somos amados se formos genuinos. Tentar ser outra pessoapara sermos amados... não resulta.

Hélder disse...

Thunderlady,

Percebi a correcção e concordo em absoluto. Pensei na frase dessa maneira, mas não ficou claro o seu sentido! (Daí ser importante a dialéctica!)

Até pode resultar... mas viveremos com o conhecimento de que é outra pessoa a ser amada!

Unknown disse...

Que sentimento? Não entendo o que é zelar sentimentalmente! Tens de alimentar a relação e, nesse sentido, podes dizer que zelas por ela, mas sentir ciúmes entra num campo diferente! É o tal sentimento de posse que por mais que o neguemos, sentimos! (Pronto, o senhor é diferente... já nem argumento!)

Hélder disse...

blackstar,

Se te entregas, não pode haver posse!

Unknown disse...

De facto, nunca poderemos chegar a um acordo sobre este tema! Se uma pessoa se entrega, permite que essa posse aconteça, isso sim! Mas posse, se há amor, existe sempre!

Hélder disse...

blackstar,

Lol! Se tu te entregas, isso não significa abdicar de possuires?! ;)

Beijos|

Unknown disse...

Não... significa que deixo que isso aconteça! Porque tu podes namorar com 500 pessoas e nenhuma te possuir!

Hélder disse...

É mesmo isso que eu digo, se dizes que amas, é porque te entregaste finalmente! Se te entregas, não podes possuir!

Unknown disse...

I give up...

Tu não tens ciúmes, tu não possuis nada nem ninguém! (azar o teu! :P)

Melissa Yedda disse...

Teu texto retrata forte e fantasticamente a dor ,e a crença do aprendizado com ela. Mas , se não nos tornamos duros em relação ao sentir,sempre vamos sofrer por outras perdas.Por maior que seja o aprendizado!
Um beijo!

Anónimo disse...

"Cego e ingénuo, ignorou todos os sinais da morte da relação"... Por vezes não é a cegueira nem a ingenuidade, é o tentar até ao fim salvar uma relação na qual acreditámos e nos empenhámos... (been there, done that... mas não penso repetir!)

Ana disse...

"Surgiam os naturais desentendimentos, talvez um pouco dificultados pelo orgulho dos dois, e pela inexperiência em relações sérias"

ih páh...essa é a história da minha História. =)

Ana disse...

OK, tb não concordo com a parte do ciúme. =) onde há Amor, há ciúme. O ser humano não está programado para evitar sentir ciúme, pois o instinto de posse é superior a ele...
Eu sou ciumenta. Mas costumo dizer que tb sou racional. Se uma gaja se atira descaradamente ao meu moço, e ainda por cima à minha frente, não posso evitar desejar esmurrá-la. Mas, elegantemente, decidi confiar NELE e afastar-me... =)

"Com o tempo, sentiu como garantido o amor por si, negligenciou o facto de uma relação precisar de investimento contínuo, sob a pena de morrer"
Ora aí está. Nenhuma chama se mantém acesa sem oxigénio...

Hélder disse...

melissa yedda,

Podemos tornar-nos duros em relação ao sentir, empedernidos, construindo uma carapaça, e mantendo um interior frágil que, se penetrado, provocará outra vez dor.
Ou podemos expor-nos, sabendo que não temos nada a perder para além das ilusões do ego.

Beijo.

Hélder disse...

Outras, é mesmo cegueira, pois não vê nada do que não quer ver.
(been there, done that, espero nunca o repetir :D)

Hélder disse...

vanadis,

Identificas correctamente o ciúme com o sentimento de posse. Então, se o amor é entrega, o ciúme não pode depreender dele. Não digo que não se sintam ciúmes, porque os sentimentos de posse manifestam-se. Mas, ao contrário do que se diz, creio que quanto maior o amor, quanto maior a entrega, menor terá que ser o ciúme. Como tu própria disseste, puseste os teus sentimentos de posse de lado, devido ao Amor, à confiança nele.

Mas eu sempre soube que aqui seria sempre contrariado pela maioria! ;)

Beijinhos.

Azul disse...

Os sinais estão sempre lá, nós é que, cegos de amor, nunca os vemos.
E esse é o pior erro em que se pode cair...