Entrou no carro e arrancaram face a um passeio sem itinerário planeado, sem destino concreto. De imediato, sentiu-lhe o peso da expectativa, o medo da incerteza do desconhecido a aflorar-lhe nos olhos. Na postura artificialmente natural, adivinhou-lhe os receios, intuiu os desejos íntimos e sentiu as vivências marcadas.
Sabia que tinha uma decisão a tomar, ou melhor, sabia que tinha de decidir agora se prosseguia com o que já havia escolhido. Conhecia de cor os maneirismos, olhares e atitudes que poderia adoptar, jogos tantas vezes treinados e efectuados, jogos de que estava farto e não queria mais jogar, como uma criança que põe de lado de vez os Lego.
Abandonou as armas e barreiras exaustivamente empregadas em situações idênticas e deixou-se conduzir por caminhos pitorescos e vistas fabulosas, enquanto a conversa fluía naturalmente sobre pequenos nadas. Evitou propositadamente todos os temas que se havia acostumado a habilmente introduzir, entregando-se simplesmente ao prazer de desfrutar um passeio simples, absorvendo o momento.
Saltitaram de lugar em lugar, de nada em nada, enquanto ele se deixava conhecer sem máscaras e lhe dava espaço para, gradualmente, despir a sua. Deambularam por espaços belos, paisagens românticas e refeições vividas enquanto prosseguiam naturalmente e com desenvoltura a conversar, pormenores importantes apenas para eles próprios.
Finalmente, horas depois, ela despiu um dos véus que a cobria. Ele sorriu-lhe e despediu-se placidamente.
46 comentários:
É extraordinário como a simplicidade de sermos nós, sem jogos, sem defesas, sem véus, é tão pouco simplista. Nos raros momentos em que permitimos que isso aconteça, sentimo-nos renovados, leves, felizes...
Entrando em 2008 com o pé direito, hein?! ;)
qual seria esse véu levantado...
sem máscaras, capas e véus ...
é a melhor opção quase sempre ;)
Beijinhos
SS
Qualquer dia ... poderá passear toda nua ... só com o véu.
Uma verdadeira proeza! Conseguir que alguém que viveu durante um vida envolta em véus consiga deixar cair um deles (um que seja) é um feito imenso. As máscaras são muitas vezes protecções contra o(s) medo(s) e nem sempre é fácil deixá-las cair!
Carla
É bom poder fazer isso... :) Escrevi um texto que ainda não publiquei que é o exacto oposto... Engraçado. Uma sintonia em forma de antítese :)
Mil beijos
Obrigada pelo comentário!
Pois que vida de estudante é dura! Fica-se sentado muito tempo na mesma posição a estudar e depois fica-se com dores de costas!
é a vidinha...
e um livro não? ;)
É tão difícil deixar cair um véu... conseguir que se deixe cair todos os véus é o desejável, mas nem sempre se consegue. Por vezes, ficar perto disso já é considerado perfeito, por isso, parece-me que vais no bom caminho! ;)
Gostei. Muito. É muito difícil tirar a máscara. Algumas pessoas não a largam mesmo quando estão sózinhos.
Um abraço e uma boa semana
Tão lindo!
Gosto muito deste texto! :)
Às vezes não é fácil viver assim - sem máscara, sem disfarce, sendo apenas e simplesmente um
EU
rodeado de
TU(S)...
A vida não nos permite esta simplicidade no dia a dia. Haja alguém perto de nós com quem o possamos fazer - e aí sentimo-nos LIVRES... ou não?
Deixa-me que te diga... está tão bem escrito... um beijo!
PS - que véu era esse não está difícil de ver... quando o homem é sincero os véus caem genuinamente... sem subterfúgios.
Máscaras à parte, está muito bom. Ponto.
sofia,
Esse comentário foi tão bom, que deu início a uma nova rubrica aqui no canto!
Não tires conclusões precipitadas :P
alguem+,
Apenas um véu, mais importante o acto do que o conteúdo em si...
anjo de cor,
Eis que discordamos. Tudo depende do que se quer! Conforme os objectivos, pode ser a pior estratégia do mundo...
Beijinhos
gione,
Nunca se sabe, nunca se sabe... :P
Carla,
Captaste a mensagem! Esse é o aspecto importante de tudo, os pequenos momentos em que, sendo nós próprios, outros encontram espaço e vontade de o ser também.
Beijinhos.
nuvem,
:) Um conceito engraçado, o de sintonia em antítese. Gostava de ver esse texto!
Beijos,
tita,
Posso-te emprestar um, tenho muitos! ;)
blackstar,
Deixar cair todos os véus é um atributo reservado a momentos especiais, que marcam permanentemente a memória. Mas creio ser importante ressalvar os pequenos momentos em que se conseguem pequenas maravilhas, subtis, mas fortes.
Bjs
elvira carvalho,
São as piores de todas, aquelas que insistimos em usar para nós próprios. "o pior cego é aquele que não quer ver", não é verdade?
Obrigado, e uma semana.
Um abraço.
jumpseat,
Eu ou o texto? :D
Obrigado!
maria bloch,
Obrigado. Ponto. ;)
cati,
Será que nos sentimos livres? Tudo depende do medo que temos da rejeição... ;)
Um beijo!
PS - Infelizmente, a experiência diz-me que os véus caem mais facilmente quando um homem/mulher NÃO é sincero...
"Deixar cair todos os véus é um atributo reservado a momentos especiais, que marcam permanentemente a memória."
Desculpa, mas não concordo! Deixar cair todos os véus é, na minha opinião, condição essencial para uma qualquer relação!
blacksatr,
Acho que concordamos no básico, mas vou-me tentar explicar melhor. Uma relação, de amor ou de amizade, tem de ser baseada na cumplicidade, ou seja, sem véus. Só assim a relação será autêntica, firme e verdadeira.
Mas todos, TODOS os véus, acho que só por vezes os despimos. Guardamos sempre alguns, uns mais outros menos, para nos protegermos, para não nos magoarmos.
A entrega total, completamente desprovida de véus, máscaras e outras defesas, mesmo que ligeiras, acho que só acontece de vez em quando, o que não invalida a autenticidade de uma relação.
Beijo
Melhorou... não será a mesma opinião, mas está melhor! (Para que não haja más interpretações, esclareço que estou a brincar quando digo que melhorou, porque considero muito saudável a existência de opiniões diferentes!)
E porque está melhor, mas só por isso, perdoo o facto de não escreveres correctamente o meu nick! :D
Htsousa, eu avisei!!!!!
A minha vingançazita está aqui:
http://www.netdisaster.com/go.php?mode=dog&url=http://cantodocolibri.blogspot.com/
=D
BlackStar,
Também sou apologista da dialética, por isso, apresenta a tua opinião! ;)
Beijinhos.
Mas espera aí. Eu interpretei assim: qd ela finalmente tira o véu, ele despede-se?...
Que lindinho! Não era preciso exagerar! Bastava chamar-me star em vez de satr que eu já ficaria satisfeita!
A entrega total só acontece de vez em quando e essas são as verdadeiras relações! Aquelas que nos levam a ter medos, a não ser totalmente verdadeiros, a usar véus, não as considero como autênticas, ao contrário de ti!
Não posso dizer que estejamos a enganar outra pessoa, no fundo, estamos apenas a enganar-nos a nós mesmos dissimulando um ou outro aspecto que possa não ser do total agrado do outro (e que mais tarde ou mais cedo deixará de ser encoberto) ou utilizando esses mesmos véus de que falas, para não ver correctamente o outro.
De uma ou de outra forma, a relação não está a ser autêntica e nunca poderá vir a ser A relação!
Enfim... opiniões! :)
"Saltitaram de lugar em lugar,"
Lembrie-me de um elefante a saltar de nenufar em nenufar !
"Finalmente, horas depois, ela despiu um dos véus que a cobria. Ele sorriu-lhe e despediu-se placidamente."
Atão o gajo passa horas a dar música e quando finalmente a gaja se despe o gajo vai-se embora ?
fuoadasssssssssssse tas COZIDO DA TOLA !
vanadis,
UM véu, e não O véu. Faz toda a diferença! ;)
Quanto a ir embora, tudo depende do que ele queria... e como o queria!
blackstar,
Lindinho? E fofo também, não? ;)
Tudo depende do significado que dás à palavra véu. Estou aqui a englobar as coisas pequenas, como por exemplo quando te fazes de forte por alguém, para tranquilizar ou não perturbar essa pessoa. Nesse caso, estás a colocar um véu sobre uma fraqueza tua. Como este, há outros exemplos de pequenas coisas, que teimam em acontecer diariamente.
Mas há momentos mágicos, e a relação deve ser uma prossecução desses momentos, e do despir dos véus (em todos os sentidos, lol)
Beijos.
tavguinu,
As imagens fofas que tu tens na cabeça!!! ;)
Não estavas atento ao início do texto, o tipo tomou a opção de não dar música.
Abraço!
O, ou um, whatever... =) Páh, se eu tirasse um véu e o gajo se fosse embora a seguir, eu pensava que não tinha gostado do que viu. E partia para outra...percebes o que quero dizer?
Se uma mulher é insegura por natureza e tem problemas em se mostrar como é, quando finalmente se deixa descobrir em algo, e o gajo a seguir se vai embora. Páh, ela nunca mais tira nada pra ninguem.
Vanadis,
Hum... percebo que o texto possa dar azo a uma interpretação de fuga, mas não era essa a ideia subjacente. A despedida vem como um desfecho ameno para um passeio ameno, sem nada forçado, e sem forçar mais.
hum... mas estamos a enganar quem com essa máscara:
Ele?
Ela?
Todos?
Eu?
... será que compensa, ser ou vestir uma capa para atingir um objectivo e depois não poder despir-se para o usufruir...
Acho que não.
;) SS
A pureza de um rosto sem máscara é algo inatíngivel... todos a temos e todos a usamos de diferentes formas e feitios...
É bom despir os véus e baixar as armas... cansa menos... Beijinhos
anjo de cor,
Foi por isso disse que dependia dos objectivos.
Imagina que o teu objectivo é simplesmente sexo, do bom e do melhor. A melhor maneira de o obter é ser aquilo que a outra pessoa quer, uma verdade empiricamente constatada.
Neste texto, ele fez uma opção com base naquilo que queria, abdicando de um caminho. Mas já alguém dizia que há duas maneiras de se ser feliz, "Ter mais ou querer menos". ;)
Beijinhos.
daniela,
Não gosto de usar a palavra nunca e sempre (embora o faça demasiadas vezes).;)
Há momentos em que todos véus desaparecem, fugazes e mágicos... e inteporais ao mesmo tempo!
anyone,
Concordo, tudo o que é preciso é perder os medos...
Beijinhos
Os muros e máscaras que erguemos e vamos construíndo á nossa volta...e que não nos deixam ver para além deles.
Mas é tão díficil pô-los de lado.
Uma vez erguidos , é quase impossível derrubá-los.
Já há muito que deixei alguns de parte, que me desfiz deles.
Derrubo uns , ergo outros...
Não se pode viver sem defesas?..Sem véus?...
Seria tão bom.
Mas é melhor não.
Azul,
É esse o problema de erguermos muros, são de muito difícil desconstrução. Não é possível viver sem nos protegermos, mas prefiro os véus. ;)
Beijos
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