sábado, 10 de novembro de 2007

Cadeira de Baloiço

Após uma longa ausência, instalas-te para a costumeira reflexão. Vens redesenhar o mapa da tua vida, esclarecer dúvidas, explorar rotas e adquirir mantimentos.

Aqui é onde sempre paras, o teu porto de abrigo, que te habituaste a usar para te reencontrares. Foi aqui que sempre pudeste manifestar todo o teu ser, o bom e o mau. Só aqui abandonavas a personagem da tua vida e eras tu própria, onde podias extravasar os pensamentos mais loucos e mais cruéis, as atitudes mais egoístas e mesquinhas, os medos mais profundos. E era embalada nesta cadeira que te reequilibravas, apenas aqui conseguias encarar-te sem fugas, sem medos.

Quase nem notas a diferença, lanças-te imediatamente naquilo que te trouxe... mas algo te faz olhar em volta. "Há qualquer coisa diferente", pensas, enquanto tentas vislumbrar o que é. A velhinha cadeira de baloiço está diferente. Não te lembraste que, desde a tua última visita, e como sempre fazes, a cadeira ficou sujeita às intempéries. Sempre a encontraste nova, ou renovada. Mas, desta vez, os estragos foram muitos. A sol forte estragou as almofadas onde sempre te amparaste, a chuva infiltrou-se e deformou a estrutura que te suportava e o vento tombou-a vezes sem conta.

A Cadeira, como sempre, teve que se regenerar a si própria. Sozinha, refez-se como pôde, mas não é a bela cadeirinha de baloiço onde tu descansavas enquanto te embalava os sonhos. E não voltará a dar conforto a quem dela não souber cuidar...

Surpreendendo-me, vi-te sair para comprar pregos, madeira, tinta e ferramentas. "Quero a minha cadeira de volta, mas não como antes!"

41 comentários:

Sabina disse...

O mal destes posts ( fenomenais) é que uma pessoa até se sente mal em comentar algo com medo de estragar.

Sendo assim, fica só um beijo

Saci

Silvia Madureira disse...

Bem...vou comentar e espero não estragar.

Sabes não tenho cadeira de baloiço mas encontro aqui uma...no teu espaço. Encontro a mesma cadeira no meu espaço e noutros que vou visitando. É nestes espaços que penso, repenso, mudo, sigo e ...enfim sonho. Espero tratar bem esta cadeira.

um beijo

Eme disse...

Passou por muitas intempéries, sofreu na pele o desgaste do tempo e recompôs-se como pôde mas nunca mais será a mesma ainda que seja reparada com todo o cuidado e carinho. Contudo, talvez esteja mais forte do que antes.
Como esta cadeira se assemelha à alma humana!

*

Ana disse...

5*... e pra quando um livro??! Beiiinhos

Moura ao Luar disse...

Um dia hei-de ter uma...

Silvia Madureira disse...

Tens uma pequena oferta no meu blog para ajudar a que a cadeira esteja bela.

beijo

Cati disse...

Aqui também há uma cadeirinha de baloiço, onde nos podemos sentar e ler estas pequenas maravilhas...

Belo texto que realça o quão importante é cuidarmos de tudo o que nos é querido - sejam objectos, pessoas, emoções...

Um beijinho, boa semana!

Anónimo disse...

Lindo!
Não tenho nem palavras... porque em tão poucos parágrafos experimentei várias emoções!
Também fico a aguardar o livro ;)

Hélder disse...

insaciável,

Os teus comentários nunca estragam, é muito bom ter-te por cá. Obrigado pela visita e pelo comentários.

Beijinhos.

Hélder disse...

Silvia Madureira,

Ainda bem que sentes este espaço como cadeira de baloiço. É exactamente o que ele é para mim e a razão que lhe deu origem.

Para já, esta cadeira tem sido muito bem tratada.

Beijos.

Hélder disse...

m.,

Esteja ou não mais forte, nunca mais será igual. Talvez fosse necessário assim...

Beijinho

Hélder disse...

Ana,

Tenho muitos, empresto-te sempre que quiseres. ;)

Obrigado e beijinhos.

Hélder disse...

moura ao luar,

Quando tiveres, lembra-te de lhe dar alguma manutenção e cuidado. Assim, pode apoiar-te quando precisares dela.

Beijinhos.

Hélder disse...

Silvia Madureira,

Obrigado pelo presente, a cadeira ficou bem melhor.

Hélder disse...

Cati,

A ideia é mesmo essa, cuidar de tudo o que nos faz bem, senão desaparece.

Ainda bem que encontras aqui uma cadeira de baloiço.

Beijinhos e boa semana.

Hélder disse...

bia,

Ainda bem , porque foi escrito para resumir várias emoções, muito diferentes entre si.

Qual livro? ;)

Beijinhos.

Anónimo disse...

falta-lhe na lista o martelo.. senão o que faz com os pregos :)
bj
sa

Hélder disse...

sa,

Ainda está a aprender a reparar a cadeira... mas a mudança de atitude é que conta.

Beijinhos.

Ana disse...

Obrigada, mas sempre que os partilhas aqui já os estás a emprestar ;P

Ana disse...

Mas ficava giro, um livro com o nome do teu blog, Canto do Colibri; inspira á liberdade e simplicidade lol...Beijinhos

Hélder disse...

Ana,

Lol, "Liberdade e Simplicidade." Percebo porque dizes isso, o nome de facto remete para aí! Eu é que não saberia o que escrever. Sou um homem de números, não de letras, ninguém passava da 1ª página desse livro!

Beijinhos e obrigado pelo sorriso (Segunda-feira muuuuiito complicada)

Marta disse...

E a tua cadeira de baloiço? A tua?
Todos nós precisamos de uma, nem que seja de vez em quando...

beijinho

Hélder disse...

marta,

Infelizmente, não tenho uma cadeira de baloiço. Não há muitas, sabes, implica um grande esforço...

Mas, de vez em quando, apanho uns bancos de pedra!

Anónimo disse...

É bom termos um porto de abrigo!

Hélder disse...

maeve,

É, mas não é fácil encontrá-los. E a maioria das pessoas não cuida dos que encontra.

Talvez por isso seja cada vez mais difícil encontrar portos de abrigo...

Beijinhos.

Ana disse...

Mas os posts que aqui publicas davam uma boa compilação, resumindo metes muitos escritores ou pseudo-escritores num bolso ;P

Anónimo disse...

Eu tenho o meu... e todos os Fins de semana, vou tirar o pó à minha cadeira!!

Anónimo disse...

"O que importa é a mudança de atitude". Concordo ctgo. Mesmo q o resultado final nao seja o que idealizas (porque não se trata de restaurar mas reconstruir - nunca mais será igual)lembra te que nem todos temos jeito para lidar com as ferramentas necessárias à reparação desta cadeira (eu por exemplo não tenho jeito nenhum para "bricolage";))
ou talvez seja preciso tempo para decifrar quais as ferramentas a usar...
Importante é tentar; reconhecer q essa cadeira foi mal tratada, encostada a um canto da sala - "fazia parte da mobília" ou seja, estava sempre lá e vence o hábito, já nem reparamos nela!
Mas agora essa reconfortante cadeira requer cuidado e não pretende, como sp, se auto regenerar e simplesmente dar-se! Em troca dá todo o seu conforto mas tem de haver uma "troca" - reciprocidade!
Ht espero que continues a surpreender-te!

Pelo teu talento para converter emoções em palavras - parabéns!

um abraço

Hélder disse...

Caro anónimo,

Eu digo que a atitude conta, porque a atitude era o que a cadeira precisava. Não é de grande manutenção, apenas precisava que houvesse uma atitude, uma tentativa de reciprocidade. No caso específico, bastava a intenção. Como também já aprendi (à custa de muita paulada), os actos contam muito, porque "de boas intenções..." Nunca tinha percebido muito bem esta frase até recentemente.

Anónimo disse...

...q a intenção se converta em acção!
E não julgemos os "bens intencionados"!

Um abraço sufocante

Hélder disse...

Não julguemos os bens intencionados. Julguemos apenas as suas acções!

Abraço.

Silvia Madureira disse...

Ora cá estou eu...não como a rainha da sabedoria mas como alguém que houve aqui e além e depois gosta de organizar.

1º eu vou passar a explicar que livro...existem pessoas que escrevem pior que tu e editam livros (até se comenta que seja plágio por vezes) e vendem que "se farta". Ter textos na gaveta não vale a pena...ou melhor...não gostarias que a Sílvia, a Marta, a Filomena, a Maria, a Rosário...todas lessem o que escreves? Então...o livro é uma boa forma de o fazer. Em vez de ter 20 comentários passas a ter uma multidão.
Mas é uma opção tua e cada um faz o que vem entender. Mas...cada um também é livre de opinar.

2º Cadeiras de baloiço são o nosso apoio, é algo que nos dá prazer, á algo que permite relaxar, é a nossa amiga em todas as horas...como tal penso que muita gente chama cadeira de baloiço a algo que de facto não é...e vive se enganando a si próprio. Eu não consigo ter todos os sentimentos que referi anteriormente se não for uma cadeira de baloiço bem especial...baloiçar por baloiçar sem prazer, sem gostar dela...é um enorme vazio. Usamos e depois ficamos tristes e desolados. Porquê ? Porque fizemos uso de um banco em vez da tão desejada cadeira.

Pode demorar...podemos até não encontrar...mas a nossa cadeira de baloiço é única.

Aí quando encontramos a cadeira temos que a tratar muito bem porque se é especial merece.

Escrevi este texto porque uns tempos vou estar ausente pois quero dar tempo para uma reflexão que deixei no meu blog...e para uma reflexão sobre mim própria. Vou apenas ler os vossos comentários no meu blog.

Desejo muita paciência que é o que também tenho porque baloiçar por baloiçar é frustrante e indigno.

beijo

P.s. tudo isto é a minha mera opinião.

Silvia Madureira disse...

correcção:

..bem entender

peço desculpa por algum erro mas foi escrito com enorme rapidez.

Hélder disse...

silvia madureira,

A única coisa proibida neste espaço é o julgamento de valor de outros, ou comportamentos ofensivos. De resto, todas as opiniões são bem vindas, até porque adoro argumentar. Muitas vezes argumento pelo lado em que não acredito apenas para a questão ser bem debatida! :)

A ideia de cadeira de baloiço que aqui descrevi é apenas a do ponto de apoio e de reequilíbrio, um gesto de amizade, sem considerações românticas. Afinal, o que é a verdadeira amizade se não uma das muitas formas de amor? Tentei versar apenas sobre a maneira como podemos dar aquilo que nos é querido como garantido, ou, pior ainda, como meros utensílios. Sejam amigos, familiares, parceiros ou conhecidos, objectos ou mesmo emoções.

Para ti não faz sentido (para mim também não), mas há quem use as cadeiras de baloiço quando precisam, para depois retomar a sua vida livres e despreocupados, sem reciprocidade.

Já estou a ir ver o teu blog!

Beijinhos, e livra-te de desaparecer!!

Silvia Madureira disse...

Ainda falando no livro...porque sou um pouco insistente nas minhas ideias. Um colega nosso Miguel Gomes foi escrevendo e eu e outros fomos comentando. Ele gostava de escrever mas para sentir a confiança de escrever um livro diz que os nossos comentários foram muito relevantes. A nossa opinião fez com que acreditasse nessa ideia. Na próxima sexta vai decorrer a apresentação do seu livro no qual consta muitos dos poemas que li e comentei e outros que ele não publicou no blog. A editora é a corpos e ...não me digas que não gostarias de partilhar as tuas ideias com mais umas quantas que não passam por aqui. Eu própria que não escrevo tão bem estou a ponderar a ideia...mas tu estás bem mais próximo. Já pensaste nisso? Quantas oportunidades nos passam à frente e deixamos passar? Não era giro...eu a Marta, a Maria, a Filo irmos a uma apresentação do teu livro e pedir um autógrafo?

Pensa bem...o que aqui disse é a minha mera opinião. Continua...pelo menos aqui.

Hélder disse...

Silvia Madureira,

Talvez daqui a uns tempos sinta que tenho algo a dizer que valha a pena ser publicado, e que tenho qualidade suficiente para isso. Para já, apenas gosto de escrever sobre emoções e de receber o feedback, que não acontece com um livro. Nem nunca pensei no assunto seriamente.
Agrada-me especialmente ver como cada pessoa reage e sente de maneiras diferentes ao mesmo texto.

Mas, assim como assim, vou repassar os textos não publicados. Já agora, se vocês viessem a uma apresentação de um livro meu vinham como convidadas e os livros já estariam autografados à vossa espera. Eu sou fiel com os meus primeiros leitores!

Um grande beijinho.

P.S. - Eu também sou insistente nas minhas ideias e não deixo que as contornem! ;)

Azul disse...

Miguito????

Migo!!!!

Então, tão caladinho á quase 1 semana???

Que passa?!?

( eu já estou como a insaciável: estes posts é ler e absorver...comentar pode estragar.)

Hélder disse...

Azul,

Uma semana? Este texto foi escrito no Sábado!!

Já estou a tratar dos próximos, mas comecei vários ao mesmo tempo...

S. disse...

Cuidar das nossas cadeiras de baloiço é um trabalho a tempo inteiro que só sai bem feito, quando é com dedicação e amor...

Belo texto! Trata de arranjar uma cadeira para ti... tu sabes como cuidar dela - só é preciso querer!

Hélder disse...

Sofia,

Sou a minha própria cadeira de baloiço.
Mas tenho tido alguns bancos, tapetes e almofadas... amigos verdadeiros.

A tempo inteiro cuidamos é de um amor. Outra lição que não esqueço. ;)

Beijinhos.

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e