quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A Tortura do Medo

Um aperto no peito, respiração difícil, os músculos presos. E um bater cada vez mais forte do coração, nervoso, quase que sem ritmo definido.

Uma onda de auto-recriminação invade-a. Fica furiosa! Porque há-de ser assim?! Porque foge quando não quer?! Porque se retrai quando quer avançar?!?! Porque há-de ser sempre assim?...

Não há explicação para aquele medo que a toma de assalto. A sua vida não teve sobressaltos de maior. Tudo foi muito pacato, muito sereno, as dificuldades usuais, os problemas habituais. Alguns momentos difíceis. Algumas decepções. Algumas alegrias. Nada de mais. Nada de mais...

E é isso que a desconcerta, que a enfurece, que a magoa que a entristece, tudo ao mesmo tempo! Que a faz envolver-se em mil e uma coisas. Ela sabe que é simpática, que é inteligente, que é agradável. E ela sabe que é apaixonada, que é carinhosa e meiga. Só ela sabe o quanto é isso tudo, o quanto tem para dar!! Sabe perfeitamente que se deixa ficar para trás por medo, que se encolhe e se aninha. Faz questão de criar distância mal alguém esboce um movimento na sua direcção.

E depois recrimina-se... Interroga-se uma e outra vez porquê! Porque não se liberta daquele medo, medo de tudo o que não conhece? Porque se deixa prender por teias invisíveis? Quer libertação, libertação de si própria e do medo que a enfraquece, que a faz parecer o que não é...


Às vezes dá um tímido primeiro passo. Expõe-se um pouquinho, dá um pequeno nada de si, na esperança que Alguém repare, que Alguém a salve.


Fica triste quando ninguém aparece. Retrai-se imediatamente, desconfiada, insegura e receosa, se alguém repara... Depois, recolhida em si mesma, questiona-se, censura-se, recrimina-se, pune-se... num ciclo vicioso.


Ela sabe o que tem de mudar. Ela sabe o que tem de fazer. Mas não consegue. Ainda não consegue...

24 comentários:

V. disse...

Sabes, é muito fácil as pessoas reverem-se no que escreves, creio.

Quando a necessidade de mudança se entranha surge outra questão: e se mudamos para pior? pelo menos esta realidade já conhecemos.

Beijinhos

tavguinu disse...

algum ataque de ansiedade?

Eme disse...

A auto estima da moça anda em baixo. Engraçado, estás a descrever os sentires de alguém, de uma ELA. Sabes o que ela sente. Bem demais ou é minha impressão?
Seja como for, recuperar a auto estima é o primeiro passo. Quando a olharem verão uma mulher e não um farrapo. O desejo é suficientemente grande para quebrar essa parede com que se cobriu.

Beijo no escritor.

Hélder disse...

thunderlady,

Não sabia, mas têm-me dito isso. Ainda não percebi porquê, não escrevo para ninguém.

Percebo o que queres dizer. É mais um medo, mais um bloqueio. Se estamos mal, se sentimos a necessidade de mudança, porque não mudar? Especialmente quando cada vez mais se sente isso?

Beijinhos.

Afrika disse...

Mais uma vez excelente escrita... continua assim!
Beijo grande.
Adorei ouvir a tua voz...

Hélder disse...

tavguinu,

Parecido. Um acumular de emoções, de frustrações. Se foi confundido com um ataque de ansiedade, não me saí muito mal. :)

Abraço.

Hélder disse...

m.,

Como aviso no intróito, não esperar coerência neste blog. Não se tratam das mesmas pessoas.

E não são pessoas que conheça bem (às vezes são), são maioritariamente sensações que ficam, impressões, momentos que foram (bem ou mal) apreendidos pelo instinto. O caso presente é disso exemplo.

Serão o desejo e a frustração suficientemente grandes?

Beijos.

Hélder disse...

Afrika,

Obrigado pelo elogio.

Não te iludas, a minha voz de Joe Cocker foi obtida no mesmo sítio que ele (só que eu é mais whisky e vodka) :)

Beijinhos.

S. disse...

Demora muito tempo a algumas pessoas... há quem nunca consiga.

Fenomenalmente escrito. A forma como descreves sentimentos é sublime. Obrigada pela dica lá na caixinha. O próximo capítulo será mais rico em sentimentos, por coincidência, os mesmos que aqui descreves neste post. Mas o meu próximo post chegará só amanhã ou sábado - ainda não sei quando vou ter tempo.

Beijinhos

Hélder disse...

sofia,

"Há quem viva enganado uma vida inteira", disseram-me uma vez.

Sei bem o que é falta de tempo. Isso e ter mil coisas para escrever e escapare-me todas quando finalmente tenho algum tempo.

Não era uma dica, apenas uma opinião. O primeiro marcou-me mais!

Beijinhos.

Vício disse...

uns com tanto e outros com tão pouco!

Ivar C disse...

htsousa, gosto deste texto. aliás, gosto normalmente dos teus textos. Principalmente porque têm a vantagem de, quem os lê, também os poder escrever. Pronto, era só isso. Abraço.

Marta disse...

O medo é um doce veneno que nos mata lentamente!

Hélder disse...

vício,

Explica-me como se eu tivesse 4 anos...

Hélder disse...

bagaco amarelo,

Obrigado. Abraço.

Hélder disse...

marta,

Doce veneno? Acho que, por vezes, é um conforto amargo... que nos impede de viver. Mas também pode ser o primeiro alerta, o aviso instintivo contra o que nos pode fazer mal.

O difícil é decidir qual é...

Azul disse...

Bonito....ou estou enganada, ou dois posts seguidinhos para dedicados á mesma pessoa!

E o meu, pá?!?

Estás todo frito, é o que dá: muito Whisky, muito Vodka! Não sei, foste tu que disseste!!

Agora a sério: mais um texto fabuloso.
E editar um livro, não?

Hélder disse...

Azul,

Estás enganada, muito enganada! E nenhum dos meus post é dedicado, são MEUS. São os meus devaneios, os meus instintos, os meus pensamentos, sobre aquilo que vejo e sinto.

Quanto a fritas da tola, tu não me faças falar. O teu post está em preparação, mas vai ter de passar pelo Azulão para ractificação! Tu és perigosa! ;)

Editar um livro para quê? As pobres das editoras já perdem dinheiro suficiente. A única coisa que as aguenta é que o subsídio de férias dos pais vai todo para livros (em breve vais saber o que isso é!!!)

Lunática disse...

Eu gosto do que escreves. Venho sempre ler e raramente comentar.. não sei não consigo.

Mas este post está excelente! Fez-me lembrar uma fase que passei realmente assim... e sim, mudei, um bocadinho, mas consegui!

O medo impede-nos de viver e de fazermos as escolhas que realmente queremos. Mas isso acaba quando já não temos medo (do próprio medo).

Beijinhos

Hélder disse...

erika,

Não sei porque não consegues comentar, mas ainda bem que o fizeste. :)

E ainda bem que conseguiste ultrapassar o medo. Talvez se possa esperar um post sobre como se faz! ;)

Beijinhos.

S disse...

A resistência à mudança?
O receio de avançar e pôr tudo de pernas para o ar?
A persistência nos medos e inseguranças que nos assombram ocasionalmente, poderão fazer com que a vida passe por nós de forma indiferente. Sem se dar conta sequer que nós existimos.
Quero sempre comentar o que escreves, mas quando te leio, não o consigo fazer à primeira. Obrigas-me à "digestão" dos sentimentos primeiro e só depois te consigo escrever. Gosto muito de pensar, obrigada por me ajudares a fazê-lo. Beijinhob:)

Hélder disse...

sylvia,

Nem mais. Essa persistência leva à dormência e ao entorpecimento. E às vezes nem sequer é preciso pôr tudo de pernas para o ar!

Não sei porque precisas de digestão, mas os teus comentários são bons.

Beijinhos

Marta disse...

Não tenho nada disto mas confesso que a timidez inicial é difícil de controlar (é que não é medo, é mesmo timidez).

Anónimo disse...

Eu acho que todos nós temos medos e cada um enfrenta -ou não- os seus medos à sua maneira! Mas por vezes um certo medo até é bom, pois leva-nos a desafiar-nos... ao medo e a nós próprios!