Ela não pensa demais.
Ela não quer pensar, que é para não descobrir.
Prefere ignorar e esconder-se atrás da falsa auto-penitência de quem merece e quer estar sozinha.
Porque tem medo.
Medo de ser julgada e perder o pouco que tem.
Medo de se julgar a si própria, e de não se perdoar.
E irritada... porque o pouco que tem não chega, não aquece, não conforta, não consola.
E confusa... porque os grilhões alheios a prendem. Porque não sabe quem quer ser, mas anseia pela liberdade de o ser.
E sozinha... exacatamente porque receia ficar sozinha se mostrar quem é.
E não compreende, ainda, que sozinha já ela está, perdida em si mesma, com medo de sair. Que tem tudo a ganhar, e nada a perder, em se revelar.
Porque, se assumir a sua liberdade de ser, apenas corre o risco de perder a ilusão de não estar sozinha. Ilusão essa que não lhe é, nem nunca foi, suficiente, que só lhe traz desespero e martírio.
Porque está sozinha, sozinha dentro de si mesma, onde ninguém pode chegar.
E tudo a ganhar, porque tem a hipótese de, pela primeira vez na sua vida, não estar sozinha.
Cá fora, há de tudo. Mas um de nós aguarda essa libertação, porque sabe quem vem aí.
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