quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Tuguices

Felizmente, tenho tido a oportunidade de viajar bastante pela Europa. Digo felizmente porque, embora as viagens não tenham sido de recreio, conseguimos sempre beber um pouco doutras culturas. Daí, se mantivermos o espírito aberto, recebemos sempre maneiras diferentes de ver a mesma realidade e de actuar sobre ela. Poderão ser melhores ou piores, não vale a pena discutir isso aqui. Indubitavelmente, obtemos um mapa mais completo da realidade.

Há coisa de umas semanas, estava em Bucareste com um grupo bastante internacional (Alemães, Italianos, Espanhóis, Belgas, Lituanos, Romenos e Tugas - mais um chileno que caiu lá de paraquedas). No âmbito das nossas reuniões, podemos contar com tradução instantânea. Contudo, a vida não é só trabalho e todos temos o hábito de ir tomar um copo, visitar a cidade e descontrair um pouco. Além disso, existem as conversas de corredor.
Embora não seja o idioma nativo de nenhum destes países, o inglês é usado como idioma internacional (excepto pelos Espanhóis, que ou recebem tradução dos amigos Tugas ou ficam de fora das conversas).

Quando, para esclarecer uma qualquer coisa corriqueira, começo a conversar em Português, reparo que uns após outros se vão calando. Quando se torna óbvio que o silêncio não é natural, mas que estão todos a escutar minha conversa, perguntei:
- What is it? Why are you all looking at us?
- Because Portuguese sounds beautifully - alguém respondeu.

Não me recordo o assunto, mas sei que foi uma questão sem importância nenhuma. Ficaram encantados com a sonoridade do Português, a sua cadência, a sua musicalidade.

Às vezes, deveríamos ter mais orgulho em nós. Descobri que os alemães liam Fernando Pessoa. Maníaco-depressivos como são - ou bipolares, para ser politicamente correcto - adoram o Livro do Desassossego, embora também conheçam a poesia (esta manifestamente mais difícil de traduzir). Os italianos conheciam bastante bem várias cidades nossas.

E, numa coisa são unânimes: Por incrível que pareça (e já tinha ouvido isto de outros estrangeiros), todos mencionam a cor do nosso céu.

- Nunca vi um céu com este azul!

Às vezes, deveríamos ter mais orgulho em nós.

12 comentários:

Anónimo disse...

as veszes deveriamos de ter mais orgulho, mas tanatas asao as desiluses ca dentro que fica dificil!
mas tenho orgulho em ser portuguesa!
yive 10 dias nas asturias e tive de aprender a arranhar espnhol pq nao me percebiam em portugues mas tb nao faziam o minimo de esforço!
beijoca!

J. Vilas Maia disse...

A nossa lingua, foneticamente, tem a particularidade de ter um compasso italiano, a carne espanhola, o sangue celta-iberico, a amplitude do árabe, e a frescura de estarmos à beira do mar. (muito minhoto não é? - lindo!)
Somos das linguas mais elegantes, adornamos as palavras com dança, mas pegando no fado tradicional, o corpo de quem canta, quase que nem marcha, ondulando o torso como uma alga firme à rocha.
Somos portugueses; sou português, nem mais nem menos que os outros; apenas e só português. E é esta a postura do português do mundo, como sempre o foram as algas no travo da maresia.

J. Vilas Maia disse...

errata: (...) como sempre a (postura) foram as algas, no travo da maresia.

desculpem.

Hélder disse...

Que não volte a acontecer tal lapso...

Marta disse...

Não tinha a minima noção de que o português lhes soava bem dessa forma! Mas é engraçado ouvirmos isso!
Quanto ao ceu azul, bom por alguma razão Lisboa é a cidade branca! :)

Shadows in Love disse...

Esse é o nosso problema, achamos sempre que somos uns coitadinhos os parentes pobres, mas também tal como tu oiço os estrangeiros a dizerem o quão bonito é o nosso jardim à beira mar plantado... o problema é que nós não sabemos aproveitar o que temos de bom e só lembramos o mau... Beijinhos da Sombra...

Hélder disse...

shadows in love,

Temos dois problemas. Além do que tu disseste, temos o vício de só ver o bom que existe no estrangeiro.
É óptimo visitar e reter as coisas novas que são boas, até para as tentar incorporar. Mas fazemos juízos de valor com base em pouca informação.
A verdade é que os outros andam tão ou mais perdidos que nós.

2 idiotas super hiper ri fixes disse...

É sempre assim, quando saímos do país é que nos apercebemos de como os outros o valorizam pela sua beleza (não vamos falar de política agora) e valor.

Os que nasceram cá, mas escolheram outras terras para fazer a sua vida têm nas veias bem vivo o espírito português e todo o seu calor.

Quanto ao céu e tudo o resto, basta abrirmos bem os olhos e apreciarmos o que nos rodeia.

Bjs com votos de bom fim-de-semana e obrigada pelo comentário animador de hoje

Borboleta Azul

Anónimo disse...

Posso dizer que ainda n fui alem de espanha e ao ler estas tuas palavras subiu-me o orgulho :)

Bom fim de Semana
Intimo Misterio
www.intimomisterio.blogs.sapo.pt

Afrika disse...

So se dar valor aquilo que não se tem ou quando "já" não se tem...
gostei de ler-te...
Ate breve.

Azul disse...

Estive fora uns anos, alguns deles passados lá onde o sol está no termo médio.
E também, sempre que eu falava português, me diziam o mesmo.

E lembro-me de me sentir orgulhosa.
Temos, d efacto, variadissimas razões para nos sentirmos orgulhosos do país em que vivemos.

Mas as outras, nomeamdamente vinda daquela palavra feia que não vou proferir, essas, levam-me constatemente a pensar em abandonar este NOSSO AZUL LINDO.

Hélder disse...

Azul,

No âmbito destes projectos internacionais em que tenho participado, descobri que a grande diferença entre os portugueses e os outros é que nós pintamos sempre um quadro ou realista ou negativo do nosso país. Eles embelezam muito a realidade. Tenho tido a oportunidade de discutir questões sociais e fui forçado a concluir que estamos em pé de igualdade em muitas coisas.

Por outro lado, também temos muit melhorar.

beijo.