Repentinamente, tomo consciência de onde estou!
Como não reconheci o lugar?! Já cá estive antes! Este vale escuro e gélido, onde a vontade falta, as forças falham e o alento fraqueja, e onde o vento nevado esconde tudo o que nos rodeia, alberga a fonte do Desespero. Enfurecido comigo próprio, relembro a viagem anterior a este lugar. Vinha ferido, moribundo, um despojo de mim próprio. Penso nos longos dias que aqui permaneci, bebendo cada vez mais a água glaciar da fonte, saciando-me a minha sede de auto-comiseração.
"Sim.", ouço-me pensar. Essa é a palavra chave, essa é a porta de entrada para aqui. Auto-comiseração. Talvez o pior dos vícios humanos, sem dúvida um dos mais inúteis. Enfurecido comigo próprio, sinto o sangue a latejar-me nas veias, enquanto o calor do ímpeto me dá forças. Relembro a vil armadilha a que nos entregamos, em que nos enclausuramos pela nossa vontade.
"NÃO!", exclamo, enquanto corro a plenos pulmões para a saída. Rejeito ficar aqui, rejeito permanecer no frio antecipado. Corro desenfreado para o Sol dos momentos felizes, para o Calor das coisas simples, para os momentos de felicidade que possam aparecer. Mergulho de chofre na realidade, e esfrego-me vigorosamente, lavando os resquícios da pena por mim próprio.
Sereno-me, deitado na praia, enquanto retomo o fôlego. Rio-me de mim próprio. "Saís-te de lá, mais uma vez. Vê se não te deixas cair outra vez."
Contemplo o pôr do sol, enquanto descanso...
19 comentários:
se tivesses levado um cão guia não te tinhas perdido !
loooooool
Auto-comiseração: sabe bem durante 5 minutos. Mais é um exagero! Limpar as lágrimas, levantar a cabeça e pormo-nos a caminho de novos trambolhões são exigências da vida. Para que de novo possamos ter um pouco de pena de nós próprios, lamber as nossas feridas (que também é importante e faz falta) e de novo caminharmos!
Espero que o fim de semana tenha sido bom; pelo menos melhor que o meu que tenho estado doente e numa profunda auto-comiseração... :(
Às vezes ficamos parados porque esquecemos o quanto pequenos prazeres da vida são importantes;
um sorriso
ouvir o som do mar
ouvir os passarinhos cantar
ver o pôr do sol
ver as estrelas
um simples olá
um toque no ombro
um olhar de uma criança
Não é um poema...ou melhor ...é o poema das nossas vidas...o que descrevi é o sal que falta nos oceanos...são estas pequenas coisas que nos dão forças a encarar as feridas como pequenos golpes que podem ser curados com os remédios que mencionei.
um abraço
às vezes é preciso lá voltar| Voltar lá quantas vezes forem necessárias até termos a certeza que estamos curados!
Lindo, como sempre.
Mas preciso que me faças sorrir para a próxima que aqui vier!
Bjufas
Há quem opte por lá viver...
Tavguinu,
Lol. Infelizmente, não sei onde se vendem cães-guia destes!
Sofia,
A auto-comiseração pode ser bem mais subtil que isso, de tal maneira que não a vês, apenas as suas consequências. E como as consequências são fortes e fazem-se ver muito bem, as causas permanecem ocultas.
Vê se te pões boa (sem segundas intenções :D) e vê lá se a culpa de estares doente não é tua. Noites ao relento, talvez?!
m.,
Alguma vez teria de acontecer... talvez estejas a ver com os olhos errados.
Estava, não estava?
Beijo.
silvia madureira,
Concordo contigo, as pequenas banalidades são muitas vezes negligenciadas. Quando encaradas correctamente, são fonte de prazer e alegria.
Mas não é aí que se encontra a chave para lidar com as desilusões ou frustrações. São muito importantes, mas usadas assim, são muletas de apoio. Sem elas, voltas a cair no poço. E elas podem não existir...
Beijo.
marta,
Sim, sem dúvida. Há pessoas que demoram a aprender as lições que a vida lhes dá, não é?
Beijinhos.
Vera,
Se precisas, fica prometido.
Beijinhos.
Crest,
Nem mais...
Abraço.
Amigo,
Como não poderia deixar de ser, havia de sentir o ímpeto de comentar um dos teus textos. Sabes que irei fazê-lo com uma qualquer "patetice", mas não me perdoarias se fosse de outra forma!
Estou certo que os pequenos devaneios de auto-comiseração acabarão por ocupar apenas o tempo necessário para "refrescar" uma vida monótona de felicidade (que te desejo).
No entanto, se tais sentimentos reaparecerem até ao final do ano e quiseres fugir para o Sol, lembro-te que ainda não combinamos como nos despedir de 2007. Um país quente vinha mesmo a calhar...
trina vela,
Grande amigo, "refrescar uma vida monótona de felicidade" é uma expressão hilariante!! Mas muito verdadeira, não esquecer.
Não te preocupes, mesmo que não apareçam, podemos combinar o país soalheiro na mesma! Não precisa é de ser esse, não há necessidade! ;)
Abraço.
Já tenho cá passado por vezes, mas julgo nunca ter deixado nenhum comentário, se assim for este será o primeiro... ou talvez não.
Realmente autocomiseração não me parece o melhor caminho a seguir, e que nada traz de positivo para quem se sente numa realidade semelhante.
Devemos isso sim, erguer a cabeça, olhar em frente, respirar bem fundo e às vezes, parar, e dar importância aos pequenos prazeres da vida, porque às vezes são nesses poucos momentos que descobrimos como é bom estarmos vivos !...
Um até já.
www.memoriasecretas.blogs.sapo.pt
mensageira,
Creio ser a primeira vez que comentas. Bem vinda ao meu canto.
A autocomiseração é, na minha opinião, um dos piores defeitos do ser humano, como já tive ocasião de aqui escrever. E consegue ser muito subtil. Não falo de chorar baba e ranho, nem de nos afundarmos em tristeza. Mas muitos sentimentos de injustiça e frustrações vêm daí. Nem sempre se consegue aperceber que caímos lá.
É como certas doenças que não se conseguem ver, apenas os seus efeitos.
E que nos impedem de gozar esses pequenos prazeres que justificam o mundo.
Obrigado pela visita.
Parabéns! Por conseguir sair do lugar onde te perdeste e principalmente pela força das tuas expressões, sempre.
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